3 de dezembro de 2018

Negligência infantil no Reino Unido e #metoo

Ano passado, nessa mesma época, escrevi sobre a campanha de Natal da rede de televisão Britânica ITV - 1 million minutes para amenizar a solidão dos idosos no dia do Natal.
Como atualmente trabalho numa escola primaria resolvi escrever sobre um problema enorme no Reino Unido - a negligência infantil.




NSPCC (Sociedade Nacional de Prevenção à Crueldade da Criança) é a principal instituição de caridade infantil aqui no Reino Unido. Especializada em proteção infantil - a única com poderes estatutários.
Em 2017/18, a helpline da instituição lidou com quase 20.000 chamadas e e-mails sobre negligência infantil.

Ano passado, 599 contatos relacionados à negligência entre a véspera de Natal e 4 de janeiro de 2018 foram registrados - a maioria dos contato vieram por meio de membros da família que ficaram preocupados com algum jovem parente. 



Quando pequenas, é relativamente "fácil" identificar quando estão sendo negligenciadas ou abusadas. Pode-se notar hematomas pelo corpo, higiene pessoal precária, estresse constante, medo e choro de aflição.
Mas e os adolescentes ou pré-adolescentes? Quando identificar quando estão em perigo?

Nesses 11 anos morando na Inglaterra, já escutei várias historias de suicídio e automutilação nas escolas secundárias da região - é assustador! Na maioria das vezes os pais não tinham a menor idéia que o adolescente estava sofrendo bullying.
Pode acontecer em qualquer lugar - na escola, em casa ou online.


Quando morei no interior de São Paulo, na minha adolescência, vivi um relacionamento abusivo - sim, adolescente! Meus pais sabiam que meu namorado era agressivo mas não tinham a menor ideia do nível de abuso que eu estava sofrendo as escondidas. Era uma adolescente de personalidade forte mas não tinha forças pra sair daquela relação, tinha muito medo dele. O menino era muito mais velho do que eu - sofri abuso emocional, sexual e físico por 4 longos anos... Coisas tão horríveis que tenho vergonha de contar até para minhas melhores amigas e raramente falo sobre o assunto. Um grande amigo (meu anjo) me ajudou a terminar esse pesadelo, não meus pais...




O número de suicídios de adolescentes na Inglaterra e País de Gales aumentou em 67% entre 2010 e 2017, revela o The Independent.
Os números da ONS - (Office of National Statistics) mostram que somente no ano passado, 187 menores de 19 anos tiraram suas próprias vidas, em comparação com 162 no ano anterior - um aumento de 15%.
Os números mais recentes revelam que a taxa de suicídio de adolescentes em Londres aumentou em mais de quatro vezes a taxa nacional - associam as mídias sociais ao aumento da ansiedade e da depressão entre eles. 


Enfim, o que quero dizer é que não importa a classe social ou país onde vivemos, crianças e adolescentes são vulneráveis e estão sujeitas a negligência e abusos. Essa geração lida com problemas que não tínhamos 20 anos atrás e por isso carece um cuidado e atenção infinitamente maior.
Se desconfiar de algo - denuncie no helpline do seu país, divida com amigos, família, professores, mas faça algo!
O medo faz a pessoa se calar mas a sensibilidade dos outros pode ajudar e libertar.

Feliz Natal


16 de março de 2018

Ensino médio na Inglaterra e uma mãe descabelada

Tenho fases na vida que minha cabeça trabalha incansavelmente - dia e noite. Não reaprendendo coisas como a tabuada do 9, equações, fórmulas pra ajudar o meu filho com a lição de casa (sou uma anta em Matemática) mas, refletindo sobre o que me espera no futuro próximo.

Meu filho cresceu e vai pra Secondary School - equivalente ao ensino médio no Brasil. O que isso quer dizer para a maioria das crianças nessa idade na Inglaterra? Quer dizer que eles irão para outra escola, pegarão transporte público sozinhos e se tornarão adolescentes. Mas ele só tem 11 anos!? Aqui é assim. Vão poder exercer o direito de um cidadão comum de ir e vir, sozinhos, em segurança para a escola. Serão independentes e adolescentes - aí começa a graça da vida.

Primeiro namorado, primeiro beijinho, pelinho no peito, saco e perereca, TPM, odores, muitos odores...




Estudantes entre 11 e 16 anos de idade são legalmente obrigados a frequentar uma Secondary School no Reino Unido. Esta etapa do ensino obrigatório é chamada de secundário inferior. Ao completar o ensino secundário inferior, os alunos devem estar prontos para iniciar um emprego e receber treinamento vocacional, dentro ou fora do local de trabalho. Ou eles vão para secundário superior ou mais conhecido como "sixth form", onde adolescentes de 16 para 18 anos preparam-se para Universidade.

Dando uma pincelada, seria assim:

Year 7 (11 - 12anos)
Year 8 (12 - 13anos)
Year 9 (13 - 14anos)
Year 10 (14 - 15anos)
Year 11 (15 - 16anos) GCSE exams - Certificado Geral de Ensino Médio
Year 12 (16 - 17anos) Lower Sixth
Year 13 (17 - 18anos) A-Level (Upper Sixth)

No começo do year 5 começamos a visitar e pesquisar sobre as escolas, do bairro e Católicas. Meu filho estuda em escola Católica, portanto tem prioridade na admissão.

Fomos em alguns "opening days" que elas promovem - o head teacher faz um pequeno discurso no inicio depois alunos e professores mostram as classes, fazem demonstração e tiram duvidas. (muito legal)
A seleção para escola Católica é diferente. A criança precisa ser batizada e frequentar a Igreja. Precisa preencher um formulário específico da própria escola e entregar com a assinatura do padre da paróquia frequentada.
É muito comum famílias "tornarem-se católicas" por um período de tempo somente para conseguir uma vaga nessas escolas - são muito bem conceituadas e concorridas. Assim que conseguem a "tal assinatura" do padre, quase que imediatamente param de frequentar a missa. Pois é, os Ingleses não são tão certinhos assim.


papel que o padre entrega no final da missa para as crianças, comprovando a presença

Pra quem quer Grammar School o esquema é mais complicado. Elas selecionam seus alunos por meio de um teste conhecido como 11-plus que é realizado pelos alunos no inicio do year 6 - ultimo ano da escola primária. Dificílimo de passar! Algumas escolas admitem os alunos por ordem de classificação - como no vestibular.
Os pais piram, gastam fortunas com aulas particulares desde cedo (year 3), e a opção da criança não passar é inexistente - ou passa, ou passa. Normalmente esses alunos/pais almejam estudar nas melhores Universidades da Inglaterra.

Frequentava um parquinho do bairro e todos os dias depois da escola vinha uma mulekada correndo, subindo no escorregador, trepa-trepa e apavorando as mães e os pequenos. Ia embora xingando de delinquentes. Pouco depois descobri que eram estudantes da Grammar School que tinha em frente, uma das mais difíceis de entrar na região. Desde então, passei a respeita-los e ia embora para os coitadinhos brincarem e gastarem energia em paz.

Outra opção são as Comprehensives Schools, escolas não seletivas - basta morar próximo e ter vaga disponível.

Uma curiosidade das escolas na Inglaterra é que a criança não repete de ano. No Brasil e em outros países, se um estudante não obteve o nível exigido em um determinado ano letivo, ele será obrigado a repetir o ano na companhia de alunos mais novos. Na Inglaterra, SE for comprovada a necessidade do aluno voltar um ano, acontecerá na escola primária.

Outra curiosidade é que eles mantêm o uniforme com o brasão ou símbolo da escola. 


"Filho não esquece o casaco e o material, de comer tudo na hora do almoço senão vai ficar com fome, toma água durante o dia, não fala com estranho na rua, olha para os dois lados antes de atravessar, não pega o trem errado, liga quando chegar na escola..." Já estou finalizando a lista de 350 recomendações.

Se meu filho fizer metade que fiz quando adolescente, estou ferrada.

Beijooootro