Você está com medo do terrorismo?
Esta é a pergunta que mais escutei nos últimos meses de amigos e familiares no Brasil. Resolvi contar como está nossa rotina depois de tantos ataques nesse ano de 2017.
Recapitulando:
Westminster - ataque terrorista que ocorreu em 22 de março na ponte de Westminster, no centro de Londres. Um carro atropelou uma multidão de pedestres perto dos portões do Parlamento. O terrorista então saiu do carro e esfaqueou um agente policial. Seis pessoas morreram e 40 ficaram feridas. Este foi o primeiro Atentado Terrorista desde o atentado no London Underground em 2005.
Manchester Arena - ataque terrorista que ocorreu em 22 de maio. A explosão aconteceu no exterior do auditório, logo após o show da cantora pop americana Ariana Grande, por um homem bomba. Vinte e duas pessoas entre adolescentes e crianças morreram e 60 ficaram feridas.
London Bridge/Borough Market - último ataque terrorista em Londres, ocorreu no dia 3 de junho. Realizado por pelo menos três homens que atropelaram vários pedestres na London Bridge e depois esfaquearam mais pessoas no famoso mercado Borough Market. Oito pessoas morreram e 48 ficaram feridas.
Quando achávamos que a Inglaterra já estava bastante chocada, judiada e ainda em luto, dia 14 de junho acontece o incêndio na Grenfell Tower. Um prédio de 24 andares pegou fogo de madrugada, em North Kensington-Londres. A catástrofe matou pelo menos 80 pessoas e ainda procuram por mais vitimas. O terrorismo gera desconfiança e chegamos a pensar, no primeiro momento, que o incêndio teria sido terrorista. No final, autoridades concluíram que a causa foi um refrigerador com defeito aliado ao produto de revestimento exterior do prédio que fizeram o fogo propagar rapidamente.
Minhas amigas suburbanas inglesas tem evitado o centro de Londres - aglomerado de pessoas e turistas. Pedi ao meu marido, que trabalha no centro, não pegar metrô na hora do rush e sim caminhar até a estação de trem - ele atendeu meu pedido. A grande ironia é que o caminho que ele faz é exatamente o mesmo onde as pessoas foram atropeladas no atentado da London Bridge.
Fui a Londres no domingo seguinte ao atentado de Manchester. O Reino Unido estava em alerta crítico - significa que um novo ataque poderia ocorrer a qualquer momento. Resolvi dar uma volta na Primark da Oxford Street antes de ir pra Igreja. Loja imensa, 4 andares lotados de turistas e londrinos. No meio da compra, aconteceu um blackout na loja inteira. Fiquei estática, meu coração bateu a milhão e quase saiu pela boca. Depois de alguns segundos, quando as luzes se acenderam, a mulher do meu lado disse - "não é o melhor dia pra isso acontecer, não é?!" Resolvi voltar pra casa.
Três semanas atrás, fazia muito calor, e antes de pegar as crianças na escola, combinamos de tomar um café, eu e mais 3 amigas. Cheguei um pouco atrasada e elas já estavam sentadas. Quando me aproximei da mesa, uma delas gritou: "run!". Escutei um barulho de vidro quebrando e pessoas correndo. Olhei para o lado e vi uma moto caída e um homem com marrete gigante nas mãos saindo da loja de joias, vizinha ao café. Minhas amigas ficaram em choque! Entramos na loja ao lado para nos proteger. Uma saiu correndo e só voltou 15 minutos depois - correu mais rápido que o Usain Bolt. Como ela viu os assaltantes descendo de 3 motos segurando objetos de metal, achou que fossem terroristas. Eram "apenas" ladrões de joalheria e me pareceram bem amadores. Difícil foi acreditar que tinha acontecido em plena luz do dia e no "nosso" pacato vilarejo em Surrey.
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estávamos sentadas nessa primeira mesa |
Sempre digo que a vida em São Paulo é "com emoção" - linguagem dos bugueiros no nordeste. Tudo acontece, coisas boas e ruins e rápido, muito rápido - turbilhão de emoções. Em 10 anos morando na Inglaterra não me lembro de um primeiro semestre tão tenso. Não estou feliz com isso, preferia a vida como era antes, "sem emoção".
Beijoooootro.
Beijoooootro.