28 de junho de 2016

Brexit para leigos

O "leave" ganhou, e agora como ficamos?
Ninguém sabe e esse foi o maior problema durante as campanhas do "remain" (permanecer) ou "leave" (sair). Nenhum dos lados apresentaram uma forte razão para que os eleitores pudessem decidir.


Não sou jornalista e nem politizada suficiente pra ir a fundo nas questões, mas, tentarei passar o sentimento de cidadãos comuns, como eu, baseado em conversas. A internet esta cheia de ótimos artigos sobre o Brexit.

Um amigo do meu marido deu sua visão sobre o porque não deveríamos sair da União Européia. Um cara politizado e inteligente, filho de imigrantes caribenhos. Falou da preocupação com a economia e o que essa decisão significaria para UK. No final da conversa, perguntei como ele havia votado - muito envergonhado disse que com a correria do trabalho esqueceu de postar o seu voto no correio. 

Para uma amiga Inglesa que trabalha na área da saúde, a grande preocupação é com o crescimento da população de imigrantes usando o NHS (Sistema Nacional de Saúde) que já está em crise. Outra preocupação é com as escolas que estão "over subscribed" (mais inscrições que vagas para oferecer). Várias escolas estão sendo forçadas a construir novas salas de aula para poderem aumentar a quantidade de vagas. Disse que passaremos sim por uma crise temporária, mas, espera um futuro melhor para seus três filhos.  

Enfim, para uma amiga jornalista brasileira, a vitoria do "leave" a preocupa muito. Não pelo fato de ser imigrante com residência permanente no Reino Unido, mas sim como cidadã. Ela acredita que a ruptura com a União Européia se deve, sobretudo,  a  fraqueza de seu líder, o primeiro ministro, David Cameron. Acredita numa  fase de muita turbulência, com recessão talvez nunca vivida por este Reino. E o fato que a  maioria votante que aprovou o Brexit é composta por uma população madura e que muito provavelmente não vai  estar aqui  para sentir os impactos e resultados de seus atos. Finaliza dizendo que cabe o amargor e os  dissabores as gerações futuras. 

O que levou a maioria dos britânicos a votar no "leave" foi a questão da imigração. Aí era minha vez de, nas rodas de conversa, mostrar o outro lado da moeda. Dizer que meu marido trabalha muito, paga todas as taxas (altíssimas por sinal) e que não recebemos benefício  do governo, nenhum! Deixando claro que não tenho absolutamente nada contra quem recebe por direito e necessidade. Não é confortante saber que você pode contar com o governo na hora que mais precisa?! 
Assistindo a um telejornal do Brasil, uma família me abalou por dias. O casal foi demitido por corte na empresa - culpa da recessão que o Brasil está vivendo. Um casal capacitado com bons cargos. Desempregados por meses, tiveram que entregar o apartamento (era financiado) e agora moram de aluguel. O abastecimento de água foi cortado por falta de pagamento, a eletricidade está atrasada a meses assim como o aluguel. Com a geladeira aberta, mostrando que mal tinham o que comer,  o homem disse que o pior de tudo é ver o filho de 1 ano de idade passar por isso. Começou a chorar e foi consolado pelo repórter.

Quando penso nessa situação penso nos refugiados. Imagine uma família vivendo num país devastado, em guerra, perseguidos por um grupo radical que decaptam, estupram, queimam, enforcam adultos e crianças?! Você, como pai/mãe, não faria qualquer coisa para  salvar seus filhos?! Não tentaria migrar para um país seguro e dar um futuro a sua família?


A intolerância já começou. Imigrantes poloneses, muçulmanos ou não brancos estão sendo hostilizados pelas ruas. Uma grande maioria que votou "leave" é racista e xenofóbica - gritam "go home!". Uma apresentadora da BBC foi xingada na sua casa, dois poloneses foram agredidos fisicamente e um centro comunitário polonês foi pichado com palavras de ódio. Segundo  NPCC (National Police Chiefs Council), de quinta a domingo passado, os crimes de ódio cresceram em 57%.
Como já disse em outro post, com nacionalidade britânica adquirida ou não, somos e sempre seremos estrangeiros, não importa quantos anos irão se passar.

Desde o resultado na sexta-feira o que mais  escutamos são histórias de pessoas arrependidas por terem votado pela saída e de pessoas que não foram votar com a certeza que o "remain" ganharia. Enganaram-se e agora é tarde - o cavalo azarão ganhou, o impensável aconteceu.

22 de junho de 2016

Pós-parto na Inglaterra e depressão

A decisão de ter um filho, a descoberta da gravidez, o momento de contar pra família, os preparativos,  o crescimento da barriga, a ansiedade do último mês de gestação,  as leituras intermináveis sobre o desenvolvimento e de como cuidar do recém-nascido... Mas, peraí! Esqueci de um detalhe: como fico eu após dar a luz?!


Alguns dias após o nascimento do meu primeiro filho, os sentimentos de angústia e confusão mental apareceram.   Não queria comer e lembro-me de chorar copiosamente enquanto amamentava. Não entendia porque aquilo estava acontecendo no momento mais importante da minha vida. Liguei para o meu médico obstetra (aquele que não fez o parto - http://tatabrandli.blogspot.co.uk/2015/05/parto-normal-ou-cesariana-brasil-ou.html) e expliquei o que estava acontecendo. Não esqueço da sua primeira pergunta - "você não está com pensamentos ruins em relação ao seu filho, está?!"  Na verdade, acho que ele queria mesmo era perguntar se jogaria meu filho pela janela. Me receitou um remédio natural a base de Passiflora e disse que era cansaço.

"Baby Blues - quando na primeira semana após o parto  a mãe fica desanimada, chorosa ou ansiosa. Esse é o momento em que os hormônios da mulher estão enlouquecidos, adaptação a nova rotina, ajustes com o nascimento do bebê, falta de sono, novas responsabilidades - tudo poderá contribuir para esse estado."Baby Blues" podem durar algumas semanas.


Mudamos para a Inglaterra e a vida começou a ficar dura. Longe da família, falta de amigos e dos amigos no Brasil, sozinha o dia todo com um bebê de 1 ano, toda rotina diária de uma dona de casa, falta do trabalho, começo do inverno, céu cinzento dia após dia, ... Bateu desânimo - os dias se arrastavam... Por que me sentia assim morando numa cidade tão linda e cheia de entretenimentos como Londres?! Resolvi procurar o médico GP (clínico geral).

Aqui na Inglaterra o pós-parto funciona assim:
As midwives (parteiras) cuidarão de você e do seu recém-nascido, em casa, por até 10 dias após o nascimento. Se tudo estiver correndo bem, vocês terão alta e passarão aos cuidados da Health Visitor na Baby Clinic do seu bairro. A Health Visitor é uma enfermeira qualificada ou parteira com formação complementar. Trabalham em estreita colaboração com parteiras, enfermeiros e GPs. Nos primeiros meses e anos de seu bebê , ela irá dar conselhos sobre : amamentação, desenvolvimento físico e emocional do bebê, imunização e qualquer preocupação que você possa ter sobre sua saúde ou do seu filho.


Red book - toda criança nascida no NHS ganha após
o nascimento

Todas as informações do desenvolvimento do bebê
serão registradas nesse livro
Entre 6 e 8 semanas a Health Visitor vai querer saber como você está se sentindo. Ela poderá te pedir para preencher um questionário ou fazer algumas perguntas. O questionário tem 10 perguntas e chama-se Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPNS). O resultado irá revelar se você está sofrendo de depressão pós-parto e poderá ser compartilhado com o seu GP. A depressão pode desenvolver-se de repente ou gradualmente no primeiro ano após o parto. De acordo com o NHS (Sistema Nacional e Saúde) afeta cerca de uma em 10 mães e em até 4 mães adolescentes.
Os tratamentos são: auto-ajuda, terapia psicológica ou antidepressivos.
Organizações locais e nacionais também podem ser fontes úteis de ajuda e conselhos tais como - Association for Postnatal Illness (APNI) and Pre and Postnatal Depression Advice and Support (PANDAS). 

Bem, espero poder ajudar algumas mães com esse post. Morando ou não na Inglaterra, a depressão não tem nacionalidade, ela aparece e muitas vezes insiste em ficar. Como diz uma amiga no Brasil, cada um tem uma maneira de cu-la, seja tomando sol na laje ou um remedinho tarja preta. O importante mesmo é manda-la embora - by by, au revoir, ciao, auf Wiedersehen, adios.

Beijooooooutro