8 de novembro de 2016

A cultura britânica do "beber até cair"


As festas de final de ano estão chegando e nada mais oportuno que falar dos excessos. Esse assunto me trouxe muita inspiração, embaraço e mini "flash backs" da minha adolescência no interior de São Paulo.
Campanha contra o álcool do NHS
BRITAINS BINGE DRINKING CULTURE - Fui procurar estatísticas e são tantas informações que resolvi passar o que vemos nas ruas e tentar explicar a fama nacional e internacional dos Britânicos pinguços.  Chega a ser divertido participar de um planejamento de balada ou "school ball". O assunto principal é quem está decidido a "enfiar o pé na jaca" e depois vem a logística da locomoção. É feito um roteiro de quem vai com quem para assim organizar os taxis/caronas e dividir os custos.

De acordo com a lei de trânsito na Inglaterra, A tolerância para os níveis de álcool no sangue é de até 80 miligramas de álcool para cem mililitros de sangue. A penalidade mínima, se for pego dirigindo acima do limite permitido, é severa - para uma primeira ofensa é a desqualificação de 12 meses e multa. No entanto, em casos mais graves, o Tribunal considerará períodos mais longos de desqualificação, ordens comunitárias e mesmo penas de prisão. Se resolver beber e dirigir vai ser na raça e na sorte!

Também é proibido consumir álcool nos metrôs e ônibus públicos, vender ou fornecer bebidas para menores de 18 anos.

Vi uma foto no jornal um tempo atrás e que não saiu da minha memória. Uma executiva de alto nível de uma empresa de Marketing, caída na sarjeta no centro de Londres e sendo socorrida por enfermeiros.

Agora imaginem: você voltando pra casa depois de um dia exaustivo de trabalho e encontra a sua chefe, (a fodona, a mulher que têm o poder de te dar aumento de salário, te promover, demitir, ou acabar com a sua carreira) naquela cena?! Como encará-la no dia seguinte? Como não oferecer um chá de boldo, Epocler ou redbull no "morning meeting"? O que fazer com a vontade de perguntar se ela dormiu abraçada com a privada chamando o Hugo? Exercício poderoso de auto-controle.
Pois é, mas isso é muito comum em todo Reino Unido - encare com "normalidade" a situação
.

"Black eye Friday" ou "Mad Friday" é o apelido dado no Reino Unido para a última sexta-feira antes do Natal. É quando acontecem as festas dos escritórios (firma), consequentemente, faz com que seja uma das noites mais movimentados do ano para as ambulâncias e polícia - as vendas de álcool nesse dia disparam em mais de 100%! Os departamentos de A&E (pronto-socorro) são inundados de britânicos bêbados. A Policia e serviços de emergência começam seus preparativos no início de dezembro. As prefeituras colocam nas ruas os "booze buses" - Veículos especialmente adaptados que tratam pacientes com doenças e lesões relacionadas ao álcool. Um ônibus "booze" pode transportar mais pacientes e isso ajuda a liberar ambulâncias de primeira linha para casos de real ameaça a saúde.


Mad Friday
 O consumo excessivo de álcool está custando à Grã-Bretanha £4,9 bilhões a cada ano em termos de admissões A&E, acidentes rodoviários, tempo da polícia e casos judiciais - de acordo com um relatório feito pela University of Bath e University of Essex em março de 2015.

Seria tão feliz na Inglaterra voltando na minha adolescência!!! A vida muda muito com os anos, nós amadurecemos, temos filhos, ficamos caretas e passamos a ter vergonha na cara. Se hoje, eu bebesse a ponto de vomitar e cair na sarjeta na frente de amigos/chefe, provavelmente pediria demissão, mudaria de bairro, de identidade ou usaria burka por alguns meses.
 
MINHA AMIGAS E EU SUPER COMPORTADAS
Agora, só tem um probleminha: meu filho está crescendo aqui na Inglaterra. E em se tratando de bebedeira e mal comportamento a "adolescência" no Reino Unido não tem idade pra acabar. 



 Beijooootro.

21 de setembro de 2016

CCTV - Tô de olho em você!

Estamos na era dos realities shows,  do espetáculo do cotidiano, onde celebridades, aspirantes  a celebridade e pessoas comuns  expõem sua vida pessoal sem qualquer pudor ou constrangimento. É a geração Big Brother, Kardashians, Jersey Shore, Real Housewives,  A Fazenda, Top Model e tantas outras pelo mundo. Tem pra todos os gostos e idades- "you name it, we've got it".


Pra nós que vivemos no Reino Unido é como se fossemos participantes desses shows, nossos passos são quase todos monitorados por câmeras - as famosas CCTVs (closed circuit television). É só olhar pra cima ou para os lados que se vê uma, seja ela pública ou privada.
O Reino Unido tem uma das maiores redes de câmeras CCTV no ​​mundo. A Associação da Indústria de Segurança Britânica (BSIA) estima que existam entre 4-5.9 milhões, tornando UK um dos lugares mais monitorados no mundo. Muito se debate sobre esse sistema.

O Assistente  Chefe Constable Mark Bates, da Metropolitan Police Service - CCTV, declarou em uma entrevista para a BBC  que:
"Não tenho nenhum desejo de nos levar em direção a uma sociedade de vigilância - o que não é do interesse de ninguém . Mas o uso eficiente da CCTV, no interesse público , é uma arma fundamental no nosso arsenal de provas que podem nos ajudar a apreender os infratores, reduzir a criminalidade, proteger o público e obter justiça para as vítimas"

Mas os ativistas contra as CCTVs  acreditam que elas violam a privacidade e questionam a sua eficácia. Emma Carr, diretora do Big Brother Watch (Grupo Britânico que defende a liberdade civil) diz: "A taxa de criminalidade da Grã-Bretanha não é significativamente menor do que os países comparáveis ​​que não têm tão vasta vigilância".

O recente assassinato da businesswoman Sadie Hartley, esfaqueada 40 vezes na porta de casa pela rival e ex-namorada do então parceiro, foi desvendado quando vídeos das câmeras de CCTV de vários estabelecimentos foram confrontados com os testemunhos. 
 

O uso privado de câmeras não teve um final feliz para o voyeur, Dr. Yeoh. Ele foi preso por usar 23 câmeras secretas para filmar suas vítimas. Criou um "pequeno" sistema de CCTV pessoal. Ele fixava minúsculas câmeras nos sanitários, lixeiras, pias e filmava até convidados em sua casa. Ao longo de mais de três anos, o renomado especialista em audição, acumulou milhares de horas de filmagens de homens, mulheres e crianças. A descoberta/queda veio depois que ele, inadvertidamente, filmou a si mesmo colocando uma câmera num banheiro comum do Hospital particular St Anthony's. A filmagem incriminadora foi encontrada quando o dispositivo fixado por ele caiu e foi encontrado por uma colega de trabalho.
Quem frequentava esse hospital e provavelmente aparece nos tapes, sentada no trono (país da Realeza) como veio ao mundo, sou EU!

E o uso  de CCTV no trânsito? Parei o carro no supermercado local (Village do subúrbio), por cinco minutos, num espaço que era muito mal sinalizado e proibido,  para comprar papinha de neném. Dois dias depois, recebi um presentinho de grego, uma multa de £60 com a foto do meu carro, digna de Instagram - nem a princesa Charlotte come uma papinha tão cara!
 

essa camera que me pegou!

Aí vem as questões da vida moderna. A CCTV que previne, soluciona crimes e delitos é a mesma que invade a privacidade do cidadão comum e do bem.  É a CCTV do bem contra a CCTV do mal. O mais maluco dessa história toda é que em troca de segurança, a sociedade abriu mão dessa liberdade sem protestar.
E convenhamos, com a febre dos Vlogs no YouTube e Snapchat seria uma ironia reclamar de invasão de privacidade, não é?!
A tal e complicada vida moderna...

Beijoooooutro.

24 de agosto de 2016

Please, Don't!

O mais bacana de morar fora é conhecer o desconhecido e começar a vida praticamente do zero. Não nasci na Inglaterra e portanto, quando mudamos pra cá, não conhecia e ainda não conheço a maioria dos ídolos e celebridades nacionais. Não sabia o que era brega ou não, o que pegava mal ou não, os programas e lugares preferidos dos ingleses, os lugares a serem evitados, etc.
 

Vou contar algumas histórias com relação a palavra, pessoa e lugar.

A mais recente, foi quando duas amigas da escola perguntaram como chamava meu blog/Instagram. Eu, inocentemente, falei que era meu apelido de criança, Tata. Uma delas deu risada, colocou as mãos nos seios quase sambando e disse - taaaaata!!!! Perguntei - significa peitão?! E as duas se mataram de rir. Quer dizer que a versão inglesa do meu blog seria - Peitão Brandli em Londres.
 
Outro caso foi quando Jimmy Savile, um excêntrico e popular apresentador da televisão britânica (agraciado com o titulo de sir, cavaleiro da coroa britânica), foi acusado de cometer mais de 500 crimes de abuso sexual de menores ao longo dos últimos 40 anos. Savile, famoso pelos anos que apresentou programas populares como "Top of the Pops e Jim'll Fix It", morreu em 2011, aos 84 anos. Foi somente cerca de um ano após a sua morte que a mítica figura foi denunciada e envolvida em uma  serie de abusos sexuais, cometidos em escolas, hospitais, instituições de acolhimento de crianças e jovens - até nos próprios estúdios da BBC. Resumindo: um monstro!
Quando o caso estourou na mídia, tinha uma rodinha de mães na saída da escola conversando sobre o assunto, horrorizadas. Viro eu, de novo inocentemente e pergunto - de quem vocês estão falando? Nunca escutei falar! Elas se entreolharam e com certeza pensaram: "Hello, que mundo você vive?!"
Várias vezes presenciei filas de autógrafos e não tinha a menor idéia quem eram as celebridades - principalmente das novelas inglesas EastEnders, Coronation Street e Emmerdale.
 

A última foi na nossa primeira férias na Espanha. Os Ingleses gostam muito de Mallorca, uma das ilhas Baleares. Fechei um hotel bacana de frente pra praia de Magaluf - os reviews eram bons. Quando chegamos lá, não se via tanta criança e tinha muitos bares e casas noturnas. Um dia, no meio da tarde, estávamos na praia brincando de areia com o Henrique quando vimos um barco de balada ancorar no pier. Saíram 3 meninas cambaleando de tão bêbadas, rindo, levantando a blusa e gritando - uhuuuu! A noite no hotel, a beira da piscina, teve uma noite rave. DJ, dançarinos quase nus, mulher que engolia fogo, muito neon e música alta.
Em 2013 lançaram um reality show chamado The Magaluf Weekender - I wonder why.
 
Magaluf


Hotel em Magaluf
Cansada de tanto dar bola fora, resolvi sempre consultar uma amiga inglesa que já morou em LA e é toda transada. Ela virou minha consultora para assuntos aleatórios UK. Me passou uma listinha dos "don'ts". Vou citar a lista, não que concorde, deixando bem claro.
  • vestir calça de moletom no dia a dia - vestimenta da classe baixa ou "chavs".
  • homem usar sunga (speedo) na piscina ou mesmo na praia.
  • furar a orelha de neném/criança - eles acham uma crueldade. Isso é assunto pra outro post.
  • cancelar qualquer programa de última hora ou chegar muito atrasado (já falei sobre isso no post amizades com ingleses).
  • falar como os "chavs" - responder "ta" em vez de thank you, "init" em vez de isn't it,...
  • fungar em público - vai assoar logo o nariz!
  • contato físico em geral - cumprimento com beijo só  se for da família ou muito íntimo.
  • dividir o que estão comendo, tomar no mesmo copo ou comer no mesmo talher.

Duvido que se algum inglês for morar no Brasil, nos primeiros anos, vai saber quem foi Hebe Camargo? Vai conhecer o ícone da televisão brasileira Silvio Santos? O programa "Qual  é a música e Domingo no parque"?  Vai saber que ovo frito, melão, azeitonas, muxibas também significam seios em português?  Pois é, então estou perdoada.

beijooooooutro.
 

28 de junho de 2016

Brexit para leigos

O "leave" ganhou, e agora como ficamos?
Ninguém sabe e esse foi o maior problema durante as campanhas do "remain" (permanecer) ou "leave" (sair). Nenhum dos lados apresentaram uma forte razão para que os eleitores pudessem decidir.


Não sou jornalista e nem politizada suficiente pra ir a fundo nas questões, mas, tentarei passar o sentimento de cidadãos comuns, como eu, baseado em conversas. A internet esta cheia de ótimos artigos sobre o Brexit.

Um amigo do meu marido deu sua visão sobre o porque não deveríamos sair da União Européia. Um cara politizado e inteligente, filho de imigrantes caribenhos. Falou da preocupação com a economia e o que essa decisão significaria para UK. No final da conversa, perguntei como ele havia votado - muito envergonhado disse que com a correria do trabalho esqueceu de postar o seu voto no correio. 

Para uma amiga Inglesa que trabalha na área da saúde, a grande preocupação é com o crescimento da população de imigrantes usando o NHS (Sistema Nacional de Saúde) que já está em crise. Outra preocupação é com as escolas que estão "over subscribed" (mais inscrições que vagas para oferecer). Várias escolas estão sendo forçadas a construir novas salas de aula para poderem aumentar a quantidade de vagas. Disse que passaremos sim por uma crise temporária, mas, espera um futuro melhor para seus três filhos.  

Enfim, para uma amiga jornalista brasileira, a vitoria do "leave" a preocupa muito. Não pelo fato de ser imigrante com residência permanente no Reino Unido, mas sim como cidadã. Ela acredita que a ruptura com a União Européia se deve, sobretudo,  a  fraqueza de seu líder, o primeiro ministro, David Cameron. Acredita numa  fase de muita turbulência, com recessão talvez nunca vivida por este Reino. E o fato que a  maioria votante que aprovou o Brexit é composta por uma população madura e que muito provavelmente não vai  estar aqui  para sentir os impactos e resultados de seus atos. Finaliza dizendo que cabe o amargor e os  dissabores as gerações futuras. 

O que levou a maioria dos britânicos a votar no "leave" foi a questão da imigração. Aí era minha vez de, nas rodas de conversa, mostrar o outro lado da moeda. Dizer que meu marido trabalha muito, paga todas as taxas (altíssimas por sinal) e que não recebemos benefício  do governo, nenhum! Deixando claro que não tenho absolutamente nada contra quem recebe por direito e necessidade. Não é confortante saber que você pode contar com o governo na hora que mais precisa?! 
Assistindo a um telejornal do Brasil, uma família me abalou por dias. O casal foi demitido por corte na empresa - culpa da recessão que o Brasil está vivendo. Um casal capacitado com bons cargos. Desempregados por meses, tiveram que entregar o apartamento (era financiado) e agora moram de aluguel. O abastecimento de água foi cortado por falta de pagamento, a eletricidade está atrasada a meses assim como o aluguel. Com a geladeira aberta, mostrando que mal tinham o que comer,  o homem disse que o pior de tudo é ver o filho de 1 ano de idade passar por isso. Começou a chorar e foi consolado pelo repórter.

Quando penso nessa situação penso nos refugiados. Imagine uma família vivendo num país devastado, em guerra, perseguidos por um grupo radical que decaptam, estupram, queimam, enforcam adultos e crianças?! Você, como pai/mãe, não faria qualquer coisa para  salvar seus filhos?! Não tentaria migrar para um país seguro e dar um futuro a sua família?


A intolerância já começou. Imigrantes poloneses, muçulmanos ou não brancos estão sendo hostilizados pelas ruas. Uma grande maioria que votou "leave" é racista e xenofóbica - gritam "go home!". Uma apresentadora da BBC foi xingada na sua casa, dois poloneses foram agredidos fisicamente e um centro comunitário polonês foi pichado com palavras de ódio. Segundo  NPCC (National Police Chiefs Council), de quinta a domingo passado, os crimes de ódio cresceram em 57%.
Como já disse em outro post, com nacionalidade britânica adquirida ou não, somos e sempre seremos estrangeiros, não importa quantos anos irão se passar.

Desde o resultado na sexta-feira o que mais  escutamos são histórias de pessoas arrependidas por terem votado pela saída e de pessoas que não foram votar com a certeza que o "remain" ganharia. Enganaram-se e agora é tarde - o cavalo azarão ganhou, o impensável aconteceu.

22 de junho de 2016

Pós-parto na Inglaterra e depressão

A decisão de ter um filho, a descoberta da gravidez, o momento de contar pra família, os preparativos,  o crescimento da barriga, a ansiedade do último mês de gestação,  as leituras intermináveis sobre o desenvolvimento e de como cuidar do recém-nascido... Mas, peraí! Esqueci de um detalhe: como fico eu após dar a luz?!


Alguns dias após o nascimento do meu primeiro filho, os sentimentos de angústia e confusão mental apareceram.   Não queria comer e lembro-me de chorar copiosamente enquanto amamentava. Não entendia porque aquilo estava acontecendo no momento mais importante da minha vida. Liguei para o meu médico obstetra (aquele que não fez o parto - http://tatabrandli.blogspot.co.uk/2015/05/parto-normal-ou-cesariana-brasil-ou.html) e expliquei o que estava acontecendo. Não esqueço da sua primeira pergunta - "você não está com pensamentos ruins em relação ao seu filho, está?!"  Na verdade, acho que ele queria mesmo era perguntar se jogaria meu filho pela janela. Me receitou um remédio natural a base de Passiflora e disse que era cansaço.

"Baby Blues - quando na primeira semana após o parto  a mãe fica desanimada, chorosa ou ansiosa. Esse é o momento em que os hormônios da mulher estão enlouquecidos, adaptação a nova rotina, ajustes com o nascimento do bebê, falta de sono, novas responsabilidades - tudo poderá contribuir para esse estado."Baby Blues" podem durar algumas semanas.


Mudamos para a Inglaterra e a vida começou a ficar dura. Longe da família, falta de amigos e dos amigos no Brasil, sozinha o dia todo com um bebê de 1 ano, toda rotina diária de uma dona de casa, falta do trabalho, começo do inverno, céu cinzento dia após dia, ... Bateu desânimo - os dias se arrastavam... Por que me sentia assim morando numa cidade tão linda e cheia de entretenimentos como Londres?! Resolvi procurar o médico GP (clínico geral).

Aqui na Inglaterra o pós-parto funciona assim:
As midwives (parteiras) cuidarão de você e do seu recém-nascido, em casa, por até 10 dias após o nascimento. Se tudo estiver correndo bem, vocês terão alta e passarão aos cuidados da Health Visitor na Baby Clinic do seu bairro. A Health Visitor é uma enfermeira qualificada ou parteira com formação complementar. Trabalham em estreita colaboração com parteiras, enfermeiros e GPs. Nos primeiros meses e anos de seu bebê , ela irá dar conselhos sobre : amamentação, desenvolvimento físico e emocional do bebê, imunização e qualquer preocupação que você possa ter sobre sua saúde ou do seu filho.


Red book - toda criança nascida no NHS ganha após
o nascimento

Todas as informações do desenvolvimento do bebê
serão registradas nesse livro
Entre 6 e 8 semanas a Health Visitor vai querer saber como você está se sentindo. Ela poderá te pedir para preencher um questionário ou fazer algumas perguntas. O questionário tem 10 perguntas e chama-se Edinburgh Postnatal Depression Scale (EPNS). O resultado irá revelar se você está sofrendo de depressão pós-parto e poderá ser compartilhado com o seu GP. A depressão pode desenvolver-se de repente ou gradualmente no primeiro ano após o parto. De acordo com o NHS (Sistema Nacional e Saúde) afeta cerca de uma em 10 mães e em até 4 mães adolescentes.
Os tratamentos são: auto-ajuda, terapia psicológica ou antidepressivos.
Organizações locais e nacionais também podem ser fontes úteis de ajuda e conselhos tais como - Association for Postnatal Illness (APNI) and Pre and Postnatal Depression Advice and Support (PANDAS). 

Bem, espero poder ajudar algumas mães com esse post. Morando ou não na Inglaterra, a depressão não tem nacionalidade, ela aparece e muitas vezes insiste em ficar. Como diz uma amiga no Brasil, cada um tem uma maneira de cu-la, seja tomando sol na laje ou um remedinho tarja preta. O importante mesmo é manda-la embora - by by, au revoir, ciao, auf Wiedersehen, adios.

Beijooooooutro




10 de maio de 2016

Estilo de vida inglês - festa infantil

Lembro-me como se fosse hoje a primeira festinha que meu filho Henrique foi convidado - uma emoção! Ele tinha acabado de entrar na escolinha , tinha três anos e meio. Não esperava uma festa estilo brasileira com brigadeiro, salgadinho, refrigerante e cerveja para os pais, mas, também não estava preparada para a versão inglesa.

Aqui na Inglaterra as festas são geralmente feitas em casa, salão de igreja, centro comunitário ou parque (verão). Contratam algum animador ou soft play (escorregador, pula-pula e piscina de bolinhas). Os estilos e quantidade de convidados vão mudando conforme a idade.
Vou contar, baseada em fatos reais, como funcionam as festas de crianças menores, até uns 6 anos.  

"No dia da festa, coloquei uma roupa nova no Henrique e saímos atrasados, como sempre. Além de chegarmos quase no meio da festa, fiquei sozinha no canto do salão da Igreja. Ninguém queria conversar comigo e também não estava com vontade de praticar meus "social skills". Pensei: tudo bem, então vou comer. Procurei, procurei e nada de comida e muito menos bebida. Depois do show do palhaço, chamaram as crianças para a mesa. As mães ficavam atrás dos filhos ajudando a encher o pratinho com as comidas - fui copiando as inglesas. Quando fui fazer o prato do Henrique, me dei conta do que estava sendo servido. Tomate, pepino e cenoura?! Frutas picadas?! Linguiça fria?! Sanduíche que geléia?! Suco quente?! Tudo misturado no mesmo prato?! Ao terminarem, as mães mais corajosas começaram a comer as sobras. As surpresas não pararam por ai. A mãe veio com o bolo (de supermercado) e quando começaram a cantar parabéns, bati palma - todos me olharam, fiquei super sem graça. O aniversariante apagou a velinha e a mãe levou o bolo embora. Pra onde foi a mulher  com o bolo?! Descobrimos no carro, ao abrir a sacolinha de surpresas, que o pedaço (do tamanho de uma azeitona) estava enrolado no guardanapo, todo grudado. Fui embora um pouco decepcionada e com fome. Pensei: essa festa foi esquisita, a próxima será diferente...e não foi..."


sessão de bolos no supermercado - pra todos os gostos
 
festinha de 4 anos do Henrique
Aprendi algumas coisas importantes logo após a segunda festinha:

Regra numero1
-não chegue atrasado porque a festa tem hora para começar e para terminar. Costumam durar em torno de 2 horas. Também não se preocupe com roupa, muitas crianças vestem a mesma que vão ao parquinho.
- o convite vem com pelo menos 3 semanas de antecedência e com RSVP.
 
O caso abaixo, aconteceu em 2015 e tomou conta da mídia na Inglaterra:
"Uma criança de cinco anos foi cobrada por não ir à festa de aniversário de um amigo - resultando em ameaças de ações legais . Alex Nash , de Cornwall , foi convidado para a festa pouco antes do Natal. Ele aceitou o convite que seria em uma pista de esqui seca. Alex não compareceu pois seus pais perceberam que na mesma data ele passaria o dia com os avós. Uma fatura de £15,95 então foi enviada pela mãe de seu colega de escola. Ela alegou que o não comparecimento de Alex deixou-a sem dinheiro e que seus pais tiveram tempo suficiente para cancelar o convite."

 
Regra 2
O presente é  embrulhado juntamente com o cartão. Nunca se esqueça do cartão! post sobre o assunto - http://tatabrandli.blogspot.co.uk/2015/07/estilo-de-vida-ingles-cartao-de.html. As mães são muito educadas e além de não permitirem que os filhos abram o presente na frente do convidado (evitando qualquer constrangimento), passada a festa, enviam um cartão de agradecimento.

Regra 3
NUNCA, NUNCA bata palmas no parabéns. Eu sei que é  um movimento involuntário para nós brasileiros, mas, a canção "happy birthday to you" é na voz e afinada.

Regra 4
A comida é para as crianças. Raras as festas que colocam uma mesa separada para os pais com bolachinha e café/chá.
Ah, outro detalhe é que nunca servem refrigerante, é suco quente, não reclame.
                                                                                       
Li várias criticas sobre as atuais festas infantis no Brasil e concordo com muitas delas. Os buffets estão cada vez mais sofisticados e bacanas, isso não podemos negar.  
Uma coisa é fato, as festas  no Brasil por mais SIMPLES que sejam, tem alegria, diversão e comida para pais e filhos - receita do sucesso.

Segui a linha e estilo das festas inglesas para o meu primeiro filho e quer saber se me arrependo? Sim, e muito. 
festinha em casa Carolina
Admiro a simplicidade, praticidade e tradição dos ingleses, mas, na minha opinião, pecaram nas comemorações de aniversário. As festas são curtas e cheias de regras. As crianças se divertem? Sim. Elas serão memoráveis? Não tenho tanta certeza.

8 de março de 2016

A Inglaterra é um país seguro?

Adoro voltar pra casa quando vamos de férias ao Brasil. Volto cheia de idéias e novas resoluções. Brasil significa recarregar as energias, ver família, amigos, deixar um pouco os filhos com os avós, tomar cerveja gelada, comer pão fresquinho na padaria, ir ao vegetariano, japonês, pizzaria, sentir um pouco de calor e calor humano.
Sempre levamos um choque com as novidades. Embora tenha morado a maior parte da vida em solo brasileiro, desaprendi a achar "normal" o anormal. Estou falando da violência, da insegurança, das histórias horrorosas e amedrontadoras que escutamos muitas vezes em tom de piada.
A melhor história das férias aconteceu com a sogra do meu irmão, Dona Cidinha. Ela recebeu um trote a cobrar as 2 horas da manhã, dizendo que tinham sequestrado minha cunhada e que ela precisaria depositar um dinheiro na conta dos bandidos. Até aí parece uma história comum, não é?! Mas, olhem que desfecho inusitado: Quando os bandidos perceberam seu desespero, resolveram dizer que estava tudo bem, que era para ela desligar o telefone e ligar para a filha e checar que nada tinha acontecido. Antes, Dona Cidinha disse: "Fica com Deus meu filho, pode deixar que vou te benzer! - Ela ainda precisará pagar a conta da ligação que provavelmente veio de algum presídio no nordeste.

Uma das principais razões que nos levaram a morar fora foi a violência urbana. Infelizmente, as coisas só pioraram nesses 8 anos.
 
MET - muito respeitada pela população
 A Polícia Metropolitana de Londres (Metropolitan Police Service, MPS), também conhecida como "Met"  é a força responsável pelo policiamento de toda a Grande Londres. A sede da Met fica no prédio da New Scotland Yard na região administrativa de Westminster. Não andar armada é a principal característica da Met. No dia a dia, o policiais usam armas de menor potencial ofensivo, como "taser" (choque elétrico), cassetete e spray de pimenta. Apenas oficiais com treinamento específico passaram a usar armas de fogo - hoje, cerca de 5% do contingente. Toda força policial britânica tem uma unidade armada, mas este é o último recurso que costuma ser utilizado. Vale ressaltar que a Grã-Bretanha tem uma das legislações mais restritivas em relação a posse de armas no mundo. A baixa letalidade da polícia britânica, segundo especialistas, tem 3 fatores: os policiais praticamente não usam armas; os criminosos também raramente têm armas; há menos pobreza e desigualdade social do que no Brasil.
 
Aqui na Inglaterra a rotina de um cidadão é feita livremente e sem medo. Sair de carro a qualquer hora do dia, cortar caminho por uma rua escura, entrar e sair de casa, sacar dinheiro no caixa eletrônico, entrar num Banco - as portas ficam abertas, sem detectores de metais e seguranças armados. Permitem que os filhos, em torno dos 10 anos, caminhem ou peguem condução sozinhos para a escola.  

A vida como deve ser... 
 


Banco na high street - mulher sacando dinheiro tranquilamente e a porta só está
fechada porque é inverno.
O setor de achados e perdidos funciona. Quando encontram objetos perdidos na rua ou algum lugar público, ou penduram numa grade/muro para ficar a mostra para a pessoa que perdeu ou retornam ao atendimento do local. Já cansei de perder gorro, lenço, capa de chuva do carrinho de neném, carteira com cartões e dinheiro e sempre os recuperei.
Para os ingleses a frase "achado não é roubado" não existe. Não tenho direito de me apropriar do que não me pertence. Aqui você é honesto desde que prove o contrário. Não estou falando de fatos históricos e sim da mentalidade de um povo.

              

Claro que roubos e violência acontecem e tem aumentado muito nos últimos anos. São gangues de rua que vem de bairros vizinhos para cometer delitos.  Roubam carros esquecidos destrancados, residências vazias, celulares e bolsas dos desatentos, bicicletas, motos e ainda esfaqueiam pessoas de gangues rivais. Sim, o negócio aqui e na peixeira! E vira e mexe tem post compartilhado no Facebook sobre "sequestradores" rondando as escolas na hora da saída - pra mim, ainda uma lenda urbana.
Quando conto um pouco da violência que enfrentamos no Brasil para minhas amigas inglesas, quase preciso desenhar, elas não entendem! Pra ser bem sincera, prefiro que fique assim...

Minha inspiração para 2016 será a história da Dona Cidinha. Talvez o Brasil precise de mais pessoas como ela, do bem e com uma ingenuidade doce. Vou mais além, bom seria se o Brasil tivesse mais bandidos como esse, com um pouco de compaixão e amor no coração.

Beijooooooutro.

19 de janeiro de 2016

Estereo WHAT?!

"Estereótipo são generalizações que as pessoas fazem sobre comportamentos ou características de outros. Significa impressão sólida e pode ser sobre a aparência, roupas, comportamento, cultura, etc. São pressupostos e muitas vezes sem ter conhecimento sobre grupos sociais ou ao menos características dos indivíduos, como a aparência, condições financeiras e comportamento."

 Estava no clube esperando meu filho terminar uma atividade quando sentei a mesa de uma indiana e outra egípcia que costumo sempre encontrar por lá. Conversa vai, conversa vem e de repente, sem perceber, estava na berlinda - "Você não usa maquiagem? Deixa eu ver suas unhas? Solta o seu cabelo! Você nem parece brasileira!"
Fui muito educada, respondi que as brasileiras são bem despojadas e cortei o assunto. Confesso que minha vontade era responder várias coisas e uma delas é que um dia achei que todo indiano fosse Hindu, zen e meditasse 2 vezes ao dia e que egípcio só andasse de camelo. Quanta ignorância a nossa! No dia seguinte, pensei em aparecer no clube com roupa de passista de escola de samba e rebolar bem na frente delas. Será que assim seria reconhecida como brasileira?!

Folheto entregue pelo NHS

Em 2015, números mostraram que 8.3 milhões de pessoas que vivem em UK não são nascidas em solos britânicos,o que representa 13% da população. 
Na Inglaterra, como em outros países da Europa, os imigrantes tem a tendência de formar pequenas comunidades. Bairros predominantes por alguma nacionalidade com mercadinhos, lojas típicas, médicos, etc. Muitas comunidades incapazes de absorver qualquer cultura local, inclusive o idioma. Parece que vivem no próprio país só que em terras inglesas. Isso vem se tornando um grande problema para o governo, social e econômico.
 Uma pesquisa feita em 2015 pelo jornal Sunday Mail, revelou as enormes somas gastas com tradutores pela polícia, tribunais, hospitais e Councils (sub-prefeituras). Sim, o governo britânico oferece intérpretes para ajudar os imigrantes que não falam Inglês. O maior gasto foi feito pelo NHS (Sistema Nacional de Saúde) e Polonês é, de longe, a língua mais traduzida.

Lagos - Algarve
Infelizmente, aqui na Inglaterra, alguns  brasileiros vem passando uma imagem que vai além do aceitável. No ultimo verão, de férias em Portugal, passeávamos pelo centrinho de um vilarejo e encontramos um brasileiro que trabalhava numa loja de souvenir. Ele nos perguntou onde morávamos e quando respondemos Inglaterra veio mais um triste comentário - "Estou  louco pra morar lá, tenho um amigo que disse que,  mesmo sem trabalhar, o governo te dá casa e dinheiro!" Essa situação nos rendeu muita conversa aquela noite. Ele era apenas um garoto e já pensava em como viver as custas de um governo. Esse país é como uma mãe, mas, para quem realmente precisa.


O que quero dizer com tudo isso é que vivemos numa sociedade cosmopolita, pessoas do mundo inteiro convivendo juntas. Temos que ter cuidado para não estereotipar nacionalidades e não ofendermos ninguém.
Tenho uma grande amiga que é iraquiana, muçulmana e não é terrorista; uma alemã que não gosta de chucrute; um argentino adorável que detesta futebol...
Sou brasileira, não sou mulata e nem sei sambar, e por isso sou menos brasileira que a Globeleza?!

Beijoooooutro.

1 de janeiro de 2016

Play date

"Era uma vez, um pequeno convidado inglês que pegou o pai do amiguinho brasileiro sem camisa (estava um dia quente) andando pela casa, de lá pra cá. No dia seguinte, foi o primeiro comentário que a mãe fez antes de agradecer o convite." (no caso esse é meu marido)

"Era uma vez, um pequeno convidado inglês que teve que jantar comida libanesa às 16h e nunca mais quis voltar na casa do seu amiguinho libanês."

"Era uma vez, ....."

Se você não quiser virar história, siga as dicas básicas para ter um play date de sucesso:

Antes:
Sempre combine a  data com no mínimo 1 semana de antecedência. Na véspera, mande uma mensagem ou fale pessoalmente confirmando o play date. Quando enviar o endereço, coloque também o horário de pick up, elas estão esperando essa informação de você. Aqui não tem essa da criança ir ficando, ficando até a hora de dormir.

Durante:
Como você é quem mora na Inglaterra, precisa seguir as regras básicas com relação a comida e horário a ser servida. Não invente de fazer arroz com feijão brasileiro, legumes refogados, etc. porque eles não vão comer. Faça o básico da comida inglesa que não dá trabalho nenhum e eles adoram. Um fish finger, roast potato, peas, pepino cortadinho, carrot stick, tomate cereja... 
Para a sobremesa sirvo sempre gelatina, sorvete ou mesmo um iogurte tipo frubes. Existem mil opções, só não invente moda senão seu convidado passará fome. Se a criança vier depois da escola, dê um pequeno snack e sirva o jantar entre 17h/17h30. Em casa dou um lanche maior e jantamos às 18h30/19h, por isso, quando temos convidado, explico que a rotina será alterada.

Antes de irem embora, dou um "treat": kit kat, bala, pirulito... vão felizes da vida e pedindo pra voltar.

Também não precisa convidar a mãe/pai para entrar nem no drop off nem no pick up, isso não pega mal. E se isso acontecer, eles costumam bater um papo rápido e ir embora. Easy peasy!


Depois:
Sempre que o seu filho é convidado, retribua o convite algumas semanas depois. Acho um detalhe importantíssimo!
Costumo também sempre enviar uma mensagem básica de agradecimento após o play date. "Thank you for today, fulano had a great time! Xx"

Senti que o meu filho ficou muito mais integrado a turma de amigos da escola depois que começamos a convidá-los para os play dates. Esse tempo a sós, fortalece a amizade e cria um laço maior fora do ambiente escolar. É também muito bom para o relacionamento entre as mães, aumenta a confiança.



Conclusão: play date é uma ótima!