7 de novembro de 2015

Vida de expatriada

Setembro completamos 8 anos morando na terra da Rainha e por isso fiz algumas reflexões.
A vida na Inglaterra não e fácil, embora essa seja a visão de muitos brasileiros. Acham que porque ganhamos em libras e moramos em Londres ela deve ser perfeita e glamorosa.

 
Aqui a dona de casa/mãe de família lava, passa, faxina, cozinha, costura, cuida dos filhos, faz supermercado, etc...No Brasil, temos o hábito de terceirizar os serviços e por isso o expatriado sofre um baque com estilo de vida europeu.
Quando mudamos, eu tinha um padrão de limpeza e organização que durou por alguns anos. Achava que esse padrão era vital e não poderia ser diferente. Passava roupa de cama e toalha de banho, varria e passava pano no chão todos os dias (tudo que sempre exigi da minha faxineira no Brasil). Hoje as coisas estão bem diferentes, demoro semanas pra tirar o ferro do armário e quando tiro, passo o necessário pra não sentir vergonha na rua (como se na Inglaterra alguém ligasse!). A limpeza da casa foi pro mesmo caminho. Os lugares que meus olhos alcançam estão sempre limpos, já o restante... O carpete, por exemplo, percebo que precisa ser aspirado quando deixo a chupeta da Carolina cair e ela sai meio cabeluda.
 
 
O padrão de limpeza na Inglaterra é considerado baixo. Aqui as "cleaners" (faxineiras) são um artigo de luxo. Somente quem trabalha tempo integral ou tem uma casa muito grande costuma contratá-las. Paga-se por hora, uma média de £7 a £15 , dependendo da região e da nacionalidade da "cleaner".
Uma pesquisa encomendada em 2014 pela empresa Method (produtos de limpeza ecológicos) mostra que: 
  • Quatro em cada cinco britânicos admitem viver em uma casa bagunçada. Alguns admitem usar secador de cabelo , pano de prato e até mesmo meias para tirar o pó. (adorei!)
  • 45% admitem maus hábitos na hora de lavar a louça. Um em cada 10 reutilizam o prato do almoço na hora do jantar sem limpá-lo. Outras, para evitarem lavar louca, usam prato de papel e escondidas limpam marcas de batom nos copos com papel toalha em vez de darem um copo limpo aos seus convidados. 
  • 60% não trocam roupa de cama toda semana. Um deles admitiu comprar lençóis novos para não precisar lavar o sujo.
  • 90% das pessoas inquiridas on-line de forma anônima , falam que as razões mais comuns para o desleixo são a falta de motivação, tempo e prazer.
E a sujeira nos carros!?  Ano passado falei pro meu filho que ele voltaria da escola com a mãe de um amiguinho. Ele reclamou muito, fez cara feia e disse que não queria. Não entendi porque, afinal não era a primeira vez que ele pegava carona com ela. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa entre eles e para minha surpresa ele respondeu: "mãe, o carro dele é imundo, da última vez tinha até macarrone cheese no chão!". Uma lavagem completa do carro, dentro e fora, custa em média £12.
Olha, estamos todos vivos, felizes e com saúde mesmo sem ter a casa brilhando de limpa e roupas engomadas. Claro, você não vai achar uma refeição completa no chão do meu carro e nem debaixo do meu sofá, mas, isso não é prioridade na minha vida.

                               

Com a distância, aprendemos a valorizar ainda mais a família e os verdadeiros amigos. Um telefonema ou whatsaap nos aniversários e mesmo no dia-a-dia passaram a ter uma importância estratosférica. Nos sentimos menos "esquecidos" nesse continente tão distante. E viva a tecnologia!
A primeira vez que morei fora do Brasil (1994) a única forma de se comunicar com a família era por telefone ou carta. Lembro que economizava um pouco da minha mesada de "au pair" (na época $300) pra ligar uma única vez por mês pra minha casa. Todos os dias esperava ansiosamente o carro do carteiro pra ver se tinha alguma carta pra mim. Era uma emoção! Foram 18 meses assim...
 


 

Outra coisa muito importante é fazer bons amigos porque eles se tornam família. Fazer novas amizades é uma tarefa difícil, nunca pensei que fosse tanto. Depois de anos morando no exterior, finalmente aprendi uma lição: não é porque é brasileiro que preciso cumprimentar, me apresentar e ainda trocar telefone. Já quebrei muito a cara com isso. Acabamos nos envolvendo com pessoas que nunca seriam nossas amigas no Brasil, por não terem nada em comum além da nacionalidade - pura carência! Queremos nos sentir um pouco em "casa", escutar nosso idioma e nos sentir menos estrangeiros. Hoje, depois de 8 anos, posso dizer que tenho amigas brasileiras pra vida toda - somos as próprias "Desperate Housewives". Talvez tenha me tornado uma amiga muito melhor.

Nesses anos também adquiri deficiência de vitamina D por falta de sol e uma depressãozinha básica que volta sempre no inverno. 
 
Quando reclamo do Brasil e elogio a Inglaterra ou quando reclamo Inglaterra e elogio o Brasil meu marido sempre me diz: bom seria se tivéssemos o melhor dos dois mundos. 

Beijoooooutro.