6 de outubro de 2015

Estilo de vida inglês - bairro e vizinho

Norte, sul, leste ou oeste?
Um mês após nossa chegada a terra da Rainha, precisávamos entregar o flat onde estávamos hospedados temporariamente. O problema é que não sabíamos para onde ir. Comecei minha procura pela internet e todos os imóveis que nos agradavam já haviam sido alugados. Por telefone, o corretor nos informou que Setembro/Outubro são os piores meses para se alugar em Londres. O ano letivo começa nessa época e as propriedades bem localizadas já foram alugadas durante o verão.

 
Recentemente, Thrillist (App) lançou um mapa completo da capital,
 mostrando o custo médio mensal de 1 quarto numa distancia de até 1km
de cada estação de metro na rede. Onde você pode ou NÃO morar.

Já caímos em vários "contos", mas o do "postcode" foi a primeira vez. Uma colega de trabalho o meu marido nos indicou East Dulwich, sul de Londres, zona 2. Ok, lá fui eu para a rua principal do bairro procurar pelas imobiliárias. Um dos corretores me levou de carro e mostrou uma casa bem fofa, porta vermelha (típica inglesa), jardim, perto da estação e 12min do centro de Londres. Ele me falou que era a rua mais segura do bairro e na hora não entendi porque. Fechamos negócio.  








Depois que mudamos, pelo postcode (CEP), descobri que estávamos  no bairro vizinho de Dulwich. Esse não tinha uma boa reputação, aliás, péssima. Pior, assinamos o contrato de 1 ano! Em Londres é muito comum ter um bairro bom vizinho de um ruim. O problema todo é que o postcode define coisas importantes como escolas e médicos GPs (Clinico Geral).
Primeira noite: um verdadeiro terror!
Nossa "casa" (container) ainda estava pra chegar do Brasil e mudamos sem nenhum prato ou talher. Tínhamos somente o berço de viagem para o Henrique e nossa mala de roupas. Naquela tarde comprei um colchão de ar, um jogo de lençol e dois travesseiros. A noite, quando fomos encher o colchão  para dormir, a bomba acoplada não funcionou. O aquecimento central  da casa também não funcionou e consequentemente não tínhamos água quente. Um frio de entrar nos ossos, inesperado para a época do ano. Dormimos no chão duro, agarrados, sem cobertor, cobertos por casacos só esperando a hora passar e o dia amanhecer. Passamos muuuuiiito frio!!!

"acampamento" na segunda noite, já com colchão cheio,
 edredom, luminaria e cabideiro.
Dia seguinte foi de vai e vem da "high street" para comprar o kit sobrevivência.
Logo na primeira saída, também descobri porque a rua era a melhor do bairro. Tinha uma MP (Membro do Parlamento)  que morava no começo da rua e ficavam dois guardas armados na porta da sua casa, 24 horas por dia. Quer segurança melhor?!  Claro que levantamos desconfiança na vizinhança  e, no mesmo dia, às 21hs toca a campainha: era uma pessoa do Council (sub-prefeitura) me fazendo mil perguntas.
Nossa primeira conta de gás foi de quase £500 (não farei a conversão para vocês não ficarem assustados). Também, pudera! Deixava o aquecimento ligado dia e noite, chegava a suar dentro de casa.
Durante esse ano, escutamos bastante o nome do bairro no noticiário. Esfaqueamento no kebab da avenida principal, piadinhas no programa de humor "Celebrity Juice", etc...
Mudamos assim que o contrato venceu e fomos para o subúrbio, como uma boa e típica família inglesa. Mas, confesso que sinto muita falta de morar perto do centro de Londres.

32 London Boroughs (bairros de Londres) 
e a City of London (centro)
Foi difícil de acostumar com algumas coisas na Inglaterra. Uma dela é a relação entre vizinhos. Se os ingleses não estão esperando visita ou encomenda, eles não abrem a porta. Você pode tocar a campainha, bater na porta - ignoram totalmente! Conheço os meus porque converso com todo mundo no elevador.
Buscando textos sobre o assunto, me deparei com uma pesquisa reveladora - "Building a stronger neighbourhood" (construindo uma vizinhança mais forte) da Kate Fox, antropóloga social e autora do livro "Watching the English:The Hidden Rules of English Behaviour", no site comparethemarket.com.
Na pesquisa, mais da metade dos entrevistados admite ter se escondido ou atrasado para sair de casa para não topar com o vizinho (olha aí os meus vizinhos quando escutam minha porta abrindo!).
Kate Fox diz: "Esta falta de espírito de comunidade é porque somos socialmente "esquisitos". Somos muito educados para tentar conhecer as pessoas que vivem na porta ao lado - não por qualquer animosidade, mas porque sempre quisemos ter uma sensação de privacidade. Nós simplesmente não queremos nos intrometer no espaço de outra pessoa (falei isso no meu post sobre os pequenos ingleses). Somos apenas educados demais. Criamos uma longa lista de estritas regras não escritas sobre privacidade (como não falar com estranhos, entre outras coisas), nos tornando socialmente "esquisitos" mais do que outras nações". Apenas 9% já pediram a um vizinho uma xícara de açúcar!


Mais uma vez, mais um assunto, mais um aprendizado e sempre a mesma conclusão: os ingleses são muito educados. Pra ser bem sincera, sobre esse assunto tenho minhas dúvidas... Isso é educação ou falta dela?!

Beijooooooutro.