27 de julho de 2015

Estilo de vida inglês - cartão de felicitação

Vou começar com fatos só pra vocês já entenderem a grandiosidade da coisa:
O relatório de mercado de 2014 da GCA-Greeting Card Association, reforça o quanto a indústria de cartão de felicitação ("greeting card")
 é enorme e bem sucedida. Com £1.29 bilhões de libras gastos em cartões individuais no último ano - mais do que o chá e café juntos. Mais cartões são comprados por pessoa no Reino Unido do que em qualquer outro país no mundo, o equivalente a 31 por pessoa.

Agora deu pra perceber?!


 
Logo nos primeiros dias que chegamos a Inglaterra, passeando pelo centro de Londres, vi uma loja da Hallmark" (maior produtora de "greetings cards" dos Estados Unidos). Me chamou muita a atenção por que minha irmã e eu colecionávamos papel de carta e adesivos dessa marca quando crianças. Os da "Hallmark" eram importados, lindos, e os que mais "valiam" na troca com a vizinhança. Estou falando de 30 anos atrás. Aquele saudosismo e "mini flashback" tomou conta de mim e entrei na loja por pura curiosidade.
Depois dessa loja me deparei com uma "Clintons" depois com a "Card Factory", (duas grandes redes de "greetings cards" e pequenos presentes em UK) e por final, corredores inteiros de supermercados, Poundland, postos de gasolina, websites ... você encontra em todo lugar e sobre todos os assuntos, uma loucura!
Mesmo com todas essas evidências, continuei sem entender o porque de tantas lojas especializadas, coisa tão antiga e tão "sem valor" no Brasil.


Minha vida social era praticamente inexistente e meu filho e eu parecíamos dois ermitões brasileiros, isolados do mundo e de todos (não por opção), então, como poderia eu entender?! 
Quando ele começou a escolinha veio logo o Natal e tudo fez sentido.  A casa ficou lotada de cartões dos amiguinhos, eles tinham até uma caixa individual para guardar os cartões antes de levá-los para casa no final do dia. Então aprendemos a primeira lição: ter sempre um estoque no armário de casa.
Também faz parte da decoração natalina, principalmente pra quem tem lareira.
 
decoração de Natal









ponto de reciclagem no supermercado após o Natal












Se por acaso, você chegou recentemente a Londres e já tem um grupo de mães inglesas, preste atenção nas seguintes situações: a filha mais velha de uma delas esta prestando algum exame, alguém divorciando, foi batizado, crismado, mudou de casa, comprou uma casa, ficou doente, se curou, nasceu, morreu, ressuscitou... não pense duas vezes, dê um cartão! 

estoque do meu armário
Fiz algumas "entrevistas" sobre o assunto e os ingleses vêem isso com ótimos olhos, demonstra que você se importa, que pegou um minuto do seu tempo para dedicar especialmente para aquela pessoa.
No aniversário de 8 anos do meu filho me preocupei com tudo. Comprei os presentes que ele pediu, enfeitei a casa com bandeirinhas e bexigas, mesa do bolo toda decorada com o Ben10 - ficou ótimo! Quando ele voltou da escola, me perguntou: mãe, cadê meu cartão?
Embora eu ainda não me importe tanto com essa tradição, acho bem legal e educado. Em casa sempre compro em ocasiões especiais como dia dos pais, mães e CLARO, aniversários.

No Natal do ano passado, tinha uma mãe no playground da escola tirando da bolsa cartões assinados e entregando para quem passasse pela frente(fui uma das escolhidas). Não tinha nome no envelope e muito menos no cartão, somente a assinatura dela. Pensei: banalizou, esculhambou um gesto tão bonito dos ingleses (ela era inglesa). Depois disso, capitei o espírito da coisa.

Alguém se lembra da última vez que escreveu um cartão para uma pessoa querida ou só tem a lembrança de ter enviado uma mensagem por e-mail, Facebook, Instagram ou WhatsApp?
Alguém se lembra como é a forma/tamanho da sua letra manuscrita ou faz anos que não escreve sequer uma lista de supermercado?

Posso ser das "antigas", da época do creme rinse, do cafona, do "viajou na maionese", mas, acho mais bacana guardar cartões na gaveta e daqui alguns anos relê-los do que salvá-los nos arquivos online.
 
Acho que tradições não esquecidas pelo tempo ou pelo avanço da tecnologia deveriam ser aprendidas com os ingleses.

Beijooootro.

6 de julho de 2015

Filho com duas pátrias


Vou logo começando o post com um "QUIZ". 
Bem tradicional na Inglaterra, o "QUIZ" nada mais é que um jogo de perguntas e respostas sobre temas variados. Os participantes se dividem em duplas ou times e um apresentador faz o papel de juiz. Os pubs sempre fazem "quiz night", clubes, escolas, festas da "firma", vários lugares, eles adoram!
 

Quem nasce no EUA? Americano é.
Quem nasce na Alemanha? Alemão é.
Quem nasce no Brasil? Brasileiro é.
Quem é filho de brasileiros e nasce na Inglaterra???????? Resposta em branco...

Como já disse em outros posts no Blog, meu marido é brasileiro e quando nos mudamos para a Inglaterra meu primeiro filho tinha quase 1 ano. Minha segunda filha nasceu 6 anos depois, já na terra da Rainha.
 
Considero nossa casa bem brasileira, só falamos português ou aquele dialeto "brasingles" (Do you know qual eu to falando?!). Faço feijão na panela de pressão. Temos chá mate e pão de queijo na dispensa. Mamão formosa na fruteira. Hipoglós, Dorflex e spray de própolis no armário do banheiro. Artesanato e CDs de MPB na estante da sala. Muitas Havaianas e Hering no armário do quarto. E tem o principal, a alma brasileira! Ah, tem também muitos gritos, beijos, apertos e piadas. Não é uma típica casa brasileira?!?!

Pelo fato do nosso filho ter nascido do Brasil, tenho algumas expectativas em relação a ele como: Precisa gostar de arroz com feijão,  pão de queijo, calor, futebol e ser Corintiano (me perdoem os São Paulinos, isso é por parte de pai).
Mas, muitas vezes ele me pega distraída com perguntas como:
-Por que preciso tomar banho todos os dias? (verdade, os ingleses não tem o hábito de tomar banho todos os dias)
-Por que tenho que comer arroz e feijão todos os dias? (exagerando um pouco, pois tem outras coisas no cardápio de casa)
-Por que nunca como linguiça e ovos de café da manhã como os ingleses? (porque aqui não é hotel e Inglês não come isso todos os dias)
E a minha melhor resposta é: porque você é BRASILEIRO!

Tive uma conversa/entrevista com ele e o resultado foi que ele tem orgulho de ser brasileiro, fala que isso o torna diferente e atraente, principalmente por falar outra língua. Mas, ele gosta de viver na Inglaterra e suas únicas reclamações são do céu sempre cinza e de estar longe dos primos, tios e avós.

Os filhos crescem tão rápido, o que é assustador!
Os primeiros passos, primeiras palavras, primeiro dia na creche, primeira vez que dormiu longe de mim, que colocou o primeiro uniforme da escola... e na verdade o que mais me emocionou foi a primeira vez que ele usou desodorante. Meu filho cresceu, já tem até odor de baixo do braço!!! A partir desse dia a vida do meu filho foi dividida em "pré- desodorante e pós-desodorante".  
O que quero dizer com isso é que os acontecimentos
mais marcantes na vida dele, a "era desodorante", não aconteceram no Brasil e sim no país que escolhemos morar. Ele cresceu na Inglaterra, não tem memória nenhuma da curta vida que teve no Brasil. Por mais que me esforce em manter as raízes brasileiras em casa e "sofra" cada vez que ele me pede feijão doce da Heinz, tenho que aceitar - essa é a realidade que ele conhece, gosta e é feliz!



 
Quando nossos filhos forem maiores de idade, vão poder decidir se o lugar deles é no Brasil ou na Inglaterra. Se eles se sentem brasileiros ou ingleses . Mas até lá, vamos vivendo e aproveitando ao máximo o que a Inglaterra têm de bom a nos oferecer, além do céu cinzento e milhas distantes da terra brasilis.

Beijooooooutro.