30 de abril de 2021

Sem patria

Escrevi esse post antes da pandemia, logo que voltamos do Brasil em 2020. 

Quando viajamos ao Brasil, para visitar a familia e amigos, percebemos o quanto estamos sem pátria.

Nao pertencemos a lugar nenhum, essa é a verdade. São 13 anos morando na Inglaterra ou fora do Brasil, como preferirem. 
Vou ressaltar alguns dos sentimentos:
Desacostumamos com o calor intenso e tropical do Brasil. Nos primeiros dias você comenta que tá passando mal de calor, suando igual uma porca e com a pressão baixa e vem a frase – “virou Inglesa, mesmo! Tá muito fresca!". 
Desacostumados a não nos programar, com dias ou mesmo algumas horas de antecedência. Aquele hábito das pessoas baterem na porta, entrarem, tomarem um cafezinho com bolinho e ficarem para o jantar já não é tão normal.  
Desacostumamos a sermos  interrogados por um desconhecido  na fila do supermercado. A conversa sempre começa sobre os filhos e derrepente voce já sabe a vida inteira da pessoa e com rirqueza de detalhes. E se você se deixar levar, também acaba contando da sua, com a mesma riqueza de detalhes.   
Desacostumamos com tanto PALPITE. A familia dá palpite em TUDO - filhos, comida, corpinho, marido, roupa, unha, etc. Sei que é por AMOR mas chega uma hora que enche o saco.
Desacostumamos com a gritaria das crianças, das nossas, dos outros e todos juntos estão é o caos.  Comecem a observar a criançada no Brasil, são felizes e barulhentas.
Desacostumamos a usar sapato dentro de casa. A primeira coisa que meus filhos fazem quando chegam na casa dos outros é tirar o sapato,  automático. Um hábito que se voltassemos a morar no Brasil não perderia, extremamente higiênico.
E os fogos e artificios?! Soltam porque é domingo, carnaval, droga chegou na comunidade, Natal, Ano Novo, Corintians ganhou, Corintians perdeu...soltam fogos por qualquer motivo.
Uma coisa temos saudades diariamente, o tempo todo, que chega a doer – da FAMILIA e BONS AMIGOS.
Sinto MUITA falta daquele chopinho depois do trabalho com os amigos, de falar besteira e dar boas risadas. Aqui a química é diferente, mesmo entre brasileiros. Você conhece muitos conterrâneos que jamais seriam seus amigos no Brasil mas acabam cruzando seu caminho por infelicidade do destino. E os ingleses tem outro senso de humor e interesses, mas, quando te consideram amigo, são amigos de verdade.  
Esse “isolamento” familiar e social lhe permite um maior auto conhecimento. Estamos em constante transformação - o que achava certo ontem posso não achar hoje e tudo bem, é vida que segue.

Resumindo – estamos com um pé aqui e outro lá. Não somos mais bons brasileiros, e continuaremos sendo estrangeiros. Essa crise de indentidade vai sempre existir e temos que conviver com isso. Viramos uns chatos. 
Beijoooooooooooootro.

5 de fevereiro de 2020

Trabalhando em UK - "another day, another dollar".

Feliz 1 ano de empresa para mim!!! Para comemorar essa conquista pessoal, resolvi escrever sobre a minha experiência durante esse ano que passou.

O que puderem aproveitar das informações, ÓTIMO, o resto joguem no lixo mental. 

Ditadinho Ingles para mais um dia de trabalho.

Vou falar das vantagens e desvantagens:

- O ambiente de trabalho é silencioso, chega a ser ensurdecedor! Trabalhar com Ingleses significa funcionário educado - ninguém grita ou discute em voz alta. Sabe aqueles barracos e humilhações em praça publica? Esqueça, essa "diversão" não existe aqui.

- Mãe / trabalho: para muitas empresas inglesas o working balance é muito importante, principalmente porque muitas vezes sai mais barato ficar em casa cuidando do filho do que ir trabalhar todos os dias. Eles tem promovido muito esse balanço entre vida profissional e pessoal.

- Depois de trabalhar por quase 7 meses, tive uma conversa com o meu chefe e ele me liberou para sair mais cedo e pegar minha filha na escola 1x por semana. Depois fui descobrir que a lei me permite fazer isso, contanto que eu cumpra as horas semanais.

- Faltar 1 dia no trabalho significa que você está de ressaca ou mentindo. Se estiver mesmo doente, precisa faltar no minimo 2 dias.  Ainda tenho mentalidade brasileira nesse quesito, não saberia olhar na cara do meu chefe depois de tanto tempo fora da empresa e sobrecarregando meus colegas de trabalho.

- Sabe aquela “fofoca” no dia seguinte da balada com o pessoal do escritório? Aqui não rola, parece que você nem saiu na noite anterior. E se você tomou todas, vomitou no pé o segurança ou arrumou rolo com alguém no banheiro, sem problemas, isso não queimará sua reputação.

- F
altam MUITO e por tudo! Dor na ponta do dedo, gripe leve, dorzinha de cabeça, cólica menstrual, vista cansada, etc...
  
- Muita flexibilidade com horário. Já vi de tudo: meio período, 4x por semana, 3x por semana, 2 full days, etc. O home office tem sido bastante usado por aqui. Aproveito esse beneficio para quando tenho eventos na escola ou mesmo nas ferias escolares.

-
Quando eles estão trabalhando são muito profissionais, a comunicação é extremamente rápida e eficiente. O problema mesmo são essas faltas constantes ao trabalho.

- Toda sexta-feira o cumprimento não é de bom dia, é "happy Friday!".

Alem da adaptação ao trabalho em si, o meu maior desafio foi trabalhar num ambiente tão multicultural e diverso. Como já mencionei em outros posts - o que pode ser normal para mim pode não ser para um Inglês/Indiano/Espanhol e vice-versa. Claro que tenho bad and good days - já chorei no banheiro, já falei “caralho” em voz alta (ninguém me entende), já liguei pro Brasil no meio do dia pra me sentir "em casa", mas, estou ADORANDO!


Essas foram as minhas rápidas percepções durante esse 1 ano de empresa - espero que gostem.

Beijooooootro.

28 de maio de 2019

Do sub-emprego para o emprego de verdade

Como sair do sub-emprego?

Bem, vou começar com a minha trajetória em UK, a do Brasil mencionei em outros posts.
A fama de highlander já carrego há bastante tempo, já fiz de tudo na vida - "you name it, I've done it".
Estava tão cansada de ser dona de casa que um dia me peguei tirando pó do móvel com a cueca usada do meu filho e outra vez com o secador de cabelo, objetos mais próximos naquele momento.
Não sei cozinhar,  não gosto de supermercado e também não tenho dinheiro suficiente para ter vida de madame - mas o mais importante é que adoro trabalhar.

Vamos deixar bem claro no inicio do post: você precisa ter national insurance ou ter visto com permissão de trabalho. Não aconselho e não apoio imigrante ilegal.

Primeiro emprego foi uma conhecida brasileira que me ofereceu uma vaga de "barista" no café dentro da TOPSHOP da Oxford Street. Fiz um treinamento de 2 dias e fui para a loja. Primeiro dia ok, segundo dia me deram 20 mesas de metal para lustrar as bases mais o chão para limpar com esfregão. A conta no final da noite eram de 3 bolhas na mão e uma derme da pele a menos. Desisti no quarto dia - bati meu próprio recorde de permanência no emprego.

Rede de café que trabalhei
Segundo emprego foi de recepcionista no studio de fotografia do bairro.
Como achei esse emprego: a proprietária era amiga da escola do meu filho, "vendi meu peixe" no playground. Fiquei 1 ano e larguei por razões relacionadas ao trabalho.

Meu terceiro emprego foi de recepcionista em eventos e congressos. Como achei esse emprego: boca a boca. Uma amiga da escola me deu o primeiro contato e durante o evento fui me informando sobre outras agencias.
Funciona como no Brasil - te agendam para o ano inteiro e você aceita se quiser. Os locais são quase sempre no centro de Londres - ExCel, Earls Court Exhibition Centre e London Olympia.
Fiquei grávida e fui trabalhar para a Bauducco nas Olimpíadas de Londres, por isso parei.



Fiquei uns 4 anos parada cuidando da minha filha até uma amiga me oferecer um trabalho temporário para cuidar de uma senhora com Alzheimer. Gostei da experiencia e resolvi entrar na área da saúde. Esse campo de cuidadora é extenso, cheio de oportunidades, flexível e paga-se bem.
Primeiro passo foi me cadastrar numa agencia local. A entrevista foi por telefone, face to face e por fim um curso de 3 dias com conteúdo teórico e pratico. Durante o processo fazem uma busca do seu histórico na Inglaterra (DBS - serviço que ajuda os empregadores a tomarem decisões de recrutamento mais seguras e impedir que pessoas inadequadas trabalhem com grupos vulneráveis, incluindo crianças e idosos.  Verifica o Police National Computer para obter detalhes de todas suas condenações penais atuais).  Se voltar clean, te oferecem formalmente o emprego. Sem o DBS você não pode trabalhar - o meu demorou quase 2 meses e meio pra chegar.
Não aguentei por muito tempo e os motivos foram: você precisa dirigir de um cliente para o outro por horas. Os chamados são geralmente de 30min a 1 hora. A rota é enviada 1 semana antes e você precisa aceita-la. Obviamente por ser nova, me passavam os clientes mais "difíceis", piores horários e de longa distancia.
Para cuidar de idosos e doentes precisa ter muito equilíbrio emocional. Quase 100% dos meus clientes estavam esperando a morte, cansados de sofrer e vegetar. Uma delas tomava morfina em gotas e acredite se quiser, a mais animada. Eu realmente não dei conta…

Comecei então um curso com certificado reconhecido pelo Ofsted (órgão do governo criado para inspecionar e avaliar os padrões educacionais de escolas e faculdades na Inglaterra) para trabalhar com crianças de 0 a 5 anos. Eu amo essa idade e a ideia me fazia brilhar os olhos. Terminei o curso e comecei a procurar vaga na área. Entrava umas 2 vezes ao dia no site chamado e-teach, o melhor para encontrar empregos na área da educação. Mandei umas 12 aplicações de emprego e sempre a mesma resposta - "dessa vez sua aplicação não obteve sucesso, blá blá blá bla…"
Aqui eles são educados, mandam carta para a sua casa dizendo que você não passou no processo de seleção - quero mais é que se lasquem e parem de destruir as árvores com essas cartinhas.
Estava procurando outro tipo de trabalho dentro das escolas, midday supervisor (monitora na hora do recreio) ou teacher assistant (assistente de professor) - mas a vaga de dinner lady (senhora da cantina) foi o que apareceu e a única que me ofereceram entrevista.
Achei que fosse somente servir comida para as crianças mas, logico que não. Era servir e depois limpar toda a cozinha e salão. Primeiro dia me deram uma vassoura que tinha 1 metro de largura e pesava uns 30kg. Segundo dia me deram 20 mesas e 160 cadeiras para montar e desmontar. Pra piorar a vida, quando a menina que lavava a louça faltava me colocavam na pia - saia de lá parecendo que tinha sido torturada, molhada, descabelada e exausta de tanto lavar panelas e assadeiras.
Joguei muita pedra na cruz, e não foi pouca não! Mas confio em Deus e tinha certeza que trabalhando dentro da escola seria mais fácil me realocarem.
Apliquei pra duas vagas dentro daquela escola e me trataram igual um lixo - pedi para sair. Juro que não cuspi na comida da diretora!  




decoração de Natal na escola

cantina da escola

















Na minha opinião, conseguimos fazer de tudo na vida, pelo menos eu consigo. Não tenho preconceito ou orgulho de trabalhar em determinadas profissões. Ao mesmo tempo acho que o ciclo é curto porque chega uma hora que você começa a questionar o trabalho e se questionar.
Meus filhos sempre foram minha prioridade numero 1 e sabia que minha profissão não encaixava nesse meu momento.
O breaking point foi quando meu filho mais velho entrou na high School e minha filha período integral.

Fiz outro curso de Admin & Business também com certificado reconhecido pelo Governo - precisava de alguma qualificação na Inglaterra. Então comecei a pegar pesado na procura de emprego na minha área mas perto de casa.

Meu marido se manifestou:"Finalmente, agora acabou a brincadeira, né?!".

Tem uma empresa multinacional com sede nova no meu bairro, prédio lindo que vi saindo do chão. Fica no caminho da escola. Sempre que passava de carro na frente falava para os meus filhos: "um dia vou tralhar ai", "olha a empresa que a mamãe vai trabalha!" dream on, dream on...
Bem, aqui estou, trabalhando na minha área, acessorando um alto executivo e extremamente feliz com a minha conquista.
Como encontrei a vaga? No web site da empresa que constantemente acessava para procurar vagas.
Como foi a entrevista? Igual ao Brasil, uma bateria delas. Me preparei, estudei o que pude sobre a empresa.
Como me contrataram? Só Deus sabe… Mas, minha capacidade de adaptacao foi mencionada.

De dinner lady para personal assistant de uma multinacional. 
Na minha vida tudo acontece assim, desse jeitinho.

Beijoooooootro







3 de dezembro de 2018

Negligência infantil no Reino Unido e #metoo

Ano passado, nessa mesma época, escrevi sobre a campanha de Natal da rede de televisão Britânica ITV - 1 million minutes para amenizar a solidão dos idosos no dia do Natal.
Como atualmente trabalho numa escola primaria resolvi escrever sobre um problema enorme no Reino Unido - a negligência infantil.




NSPCC (Sociedade Nacional de Prevenção à Crueldade da Criança) é a principal instituição de caridade infantil aqui no Reino Unido. Especializada em proteção infantil - a única com poderes estatutários.
Em 2017/18, a helpline da instituição lidou com quase 20.000 chamadas e e-mails sobre negligência infantil.

Ano passado, 599 contatos relacionados à negligência entre a véspera de Natal e 4 de janeiro de 2018 foram registrados - a maioria dos contato vieram por meio de membros da família que ficaram preocupados com algum jovem parente. 



Quando pequenas, é relativamente "fácil" identificar quando estão sendo negligenciadas ou abusadas. Pode-se notar hematomas pelo corpo, higiene pessoal precária, estresse constante, medo e choro de aflição.
Mas e os adolescentes ou pré-adolescentes? Quando identificar quando estão em perigo?

Nesses 11 anos morando na Inglaterra, já escutei várias historias de suicídio e automutilação nas escolas secundárias da região - é assustador! Na maioria das vezes os pais não tinham a menor idéia que o adolescente estava sofrendo bullying.
Pode acontecer em qualquer lugar - na escola, em casa ou online.


Quando morei no interior de São Paulo, na minha adolescência, vivi um relacionamento abusivo - sim, adolescente! Meus pais sabiam que meu namorado era agressivo mas não tinham a menor ideia do nível de abuso que eu estava sofrendo as escondidas. Era uma adolescente de personalidade forte mas não tinha forças pra sair daquela relação, tinha muito medo dele. O menino era muito mais velho do que eu - sofri abuso emocional, sexual e físico por 4 longos anos... Coisas tão horríveis que tenho vergonha de contar até para minhas melhores amigas e raramente falo sobre o assunto. Um grande amigo (meu anjo) me ajudou a terminar esse pesadelo, não meus pais...




O número de suicídios de adolescentes na Inglaterra e País de Gales aumentou em 67% entre 2010 e 2017, revela o The Independent.
Os números da ONS - (Office of National Statistics) mostram que somente no ano passado, 187 menores de 19 anos tiraram suas próprias vidas, em comparação com 162 no ano anterior - um aumento de 15%.
Os números mais recentes revelam que a taxa de suicídio de adolescentes em Londres aumentou em mais de quatro vezes a taxa nacional - associam as mídias sociais ao aumento da ansiedade e da depressão entre eles. 


Enfim, o que quero dizer é que não importa a classe social ou país onde vivemos, crianças e adolescentes são vulneráveis e estão sujeitas a negligência e abusos. Essa geração lida com problemas que não tínhamos 20 anos atrás e por isso carece um cuidado e atenção infinitamente maior.
Se desconfiar de algo - denuncie no helpline do seu país, divida com amigos, família, professores, mas faça algo!
O medo faz a pessoa se calar mas a sensibilidade dos outros pode ajudar e libertar.

Feliz Natal


16 de março de 2018

Ensino médio na Inglaterra e uma mãe descabelada

Tenho fases na vida que minha cabeça trabalha incansavelmente - dia e noite. Não reaprendendo coisas como a tabuada do 9, equações, fórmulas pra ajudar o meu filho com a lição de casa (sou uma anta em Matemática) mas, refletindo sobre o que me espera no futuro próximo.

Meu filho cresceu e vai pra Secondary School - equivalente ao ensino médio no Brasil. O que isso quer dizer para a maioria das crianças nessa idade na Inglaterra? Quer dizer que eles irão para outra escola, pegarão transporte público sozinhos e se tornarão adolescentes. Mas ele só tem 11 anos!? Aqui é assim. Vão poder exercer o direito de um cidadão comum de ir e vir, sozinhos, em segurança para a escola. Serão independentes e adolescentes - aí começa a graça da vida.

Primeiro namorado, primeiro beijinho, pelinho no peito, saco e perereca, TPM, odores, muitos odores...




Estudantes entre 11 e 16 anos de idade são legalmente obrigados a frequentar uma Secondary School no Reino Unido. Esta etapa do ensino obrigatório é chamada de secundário inferior. Ao completar o ensino secundário inferior, os alunos devem estar prontos para iniciar um emprego e receber treinamento vocacional, dentro ou fora do local de trabalho. Ou eles vão para secundário superior ou mais conhecido como "sixth form", onde adolescentes de 16 para 18 anos preparam-se para Universidade.

Dando uma pincelada, seria assim:

Year 7 (11 - 12anos)
Year 8 (12 - 13anos)
Year 9 (13 - 14anos)
Year 10 (14 - 15anos)
Year 11 (15 - 16anos) GCSE exams - Certificado Geral de Ensino Médio
Year 12 (16 - 17anos) Lower Sixth
Year 13 (17 - 18anos) A-Level (Upper Sixth)

No começo do year 5 começamos a visitar e pesquisar sobre as escolas, do bairro e Católicas. Meu filho estuda em escola Católica, portanto tem prioridade na admissão.

Fomos em alguns "opening days" que elas promovem - o head teacher faz um pequeno discurso no inicio depois alunos e professores mostram as classes, fazem demonstração e tiram duvidas. (muito legal)
A seleção para escola Católica é diferente. A criança precisa ser batizada e frequentar a Igreja. Precisa preencher um formulário específico da própria escola e entregar com a assinatura do padre da paróquia frequentada.
É muito comum famílias "tornarem-se católicas" por um período de tempo somente para conseguir uma vaga nessas escolas - são muito bem conceituadas e concorridas. Assim que conseguem a "tal assinatura" do padre, quase que imediatamente param de frequentar a missa. Pois é, os Ingleses não são tão certinhos assim.


papel que o padre entrega no final da missa para as crianças, comprovando a presença

Pra quem quer Grammar School o esquema é mais complicado. Elas selecionam seus alunos por meio de um teste conhecido como 11-plus que é realizado pelos alunos no inicio do year 6 - ultimo ano da escola primária. Dificílimo de passar! Algumas escolas admitem os alunos por ordem de classificação - como no vestibular.
Os pais piram, gastam fortunas com aulas particulares desde cedo (year 3), e a opção da criança não passar é inexistente - ou passa, ou passa. Normalmente esses alunos/pais almejam estudar nas melhores Universidades da Inglaterra.

Frequentava um parquinho do bairro e todos os dias depois da escola vinha uma mulekada correndo, subindo no escorregador, trepa-trepa e apavorando as mães e os pequenos. Ia embora xingando de delinquentes. Pouco depois descobri que eram estudantes da Grammar School que tinha em frente, uma das mais difíceis de entrar na região. Desde então, passei a respeita-los e ia embora para os coitadinhos brincarem e gastarem energia em paz.

Outra opção são as Comprehensives Schools, escolas não seletivas - basta morar próximo e ter vaga disponível.

Uma curiosidade das escolas na Inglaterra é que a criança não repete de ano. No Brasil e em outros países, se um estudante não obteve o nível exigido em um determinado ano letivo, ele será obrigado a repetir o ano na companhia de alunos mais novos. Na Inglaterra, SE for comprovada a necessidade do aluno voltar um ano, acontecerá na escola primária.

Outra curiosidade é que eles mantêm o uniforme com o brasão ou símbolo da escola. 


"Filho não esquece o casaco e o material, de comer tudo na hora do almoço senão vai ficar com fome, toma água durante o dia, não fala com estranho na rua, olha para os dois lados antes de atravessar, não pega o trem errado, liga quando chegar na escola..." Já estou finalizando a lista de 350 recomendações.

Se meu filho fizer metade que fiz quando adolescente, estou ferrada.

Beijooootro

6 de dezembro de 2017

Idosos na Inglaterra (parte 2) - solidão

Estava tentando iniciar esse texto de uma maneira mais glamourosa sobre meu atual trabalho e lembrei que não tenho que provar nada à ninguém. Preciso sim alertar as pessoas sobre a solidão dos idosos no Reino Unido - a solidão do próximo.


Como escrevi no primeiro texto sobre o assunto https://tatabrandli.blogspot.co.uk/2015/06/idosos-na-inglaterra-um-novo-olhar.html tenho uma grande amiga inglesa que trabalha como carer (cuidadora). Ano passado, fui acompanha-la em algumas visitas para ver como era o trabalho e para eventualmente cobri-la. Com tempo sobrando e querendo trabalhar, ela finalmente me pediu ajuda. Seria pra cuidar todos os dias de uma idosa com demência. Uma senhora de sorte, pois a família tem condições financeiras de arcar com as despesas de uma cuidadora particular.

Ao mesmo tempo que aceitei o trabalho, entrou no ar uma campanha de Natal da rede de televisão Britânica ITV - 1 million minutes.
A famosa atriz Inglesa da série Dynasty, Joan Collins de 84 anos, ajudou a lançá-la encorajando as pessoas a cederem pelo menos 30 minutos do seu tempo para ajudar um idoso solitário.
1 milhão de minutos, porque estima-se que sejam mais de 1 milhão de pessoas idosas no Reino Unido socialmente isoladas - ficam por dias sem falar com um amigo ou membro da família. Passarão o Natal sozinhas...

Olha que triste os dados divulgados pela comissão Jo Cox sobre solidão (The Jo Cox Commission on Loneliness):

*Um relatório da Alzheimer's Society mostrou que um terço das pessoas com demência disseram que perderam os amigos após o diagnóstico. 1 de cada 10 saem de casa somente uma vez por mês.

*Uma análise realizada pela Age UK mostra que 3,6 milhões de pessoas com 65 anos ou mais concordam que a televisão é a principal forma de companhia.

*Pesquisa realizada pela Independent Age descobriu que 1 de cada 3 pessoas com 75 anos ou mais afirmam que o sentimento de solidão está fora do seu controle.

*Carers UK revelou que 8 de cada 10 cuidadores já se sentiram solitários ou isolados como resultado de cuidar de um ente querido.

Não vou mentir, ser cuidadora é uma profissão dura que necessita uma dose enorme de paciência, responsabilidade e dedicação. Não é sub-emprego, você precisa falar bem o Inglês, ter carro e gostar de cuidar do próximo - os idosos são como crianças pequenas. Mas, uma profissão bem remunerada, flexível e com amplo mercado de trabalho no Reino Unido.

Care Home no meu bairro


Tenho levado a cliente para socializar-se no day club do bairro para maiores de 60 anos. Eles tem atividades como aula de canto, ginástica e bingo - almoçam e tomam café da tarde. Pela manhã, quando abrem, a recepção fica lotada de idosos com andadores e scooter elétricas, o maior trânsito. Se somássemos as idades daria 1000 anos ou mais.

"A demência é um termo usado para descrever um conjunto de doenças que prejudicam as funções diárias e afetam a memória, o raciocínio e as habilidades sociais do individuo". Eles tem momentos de agressividade, perda de memória, confusão mental e alteração de personalidade. Um dia ruim da semana passada, me questionei: o que eu estou fazendo aqui?! Tinha uma carreira no Brasil, não preciso disso!

Chorei, e chorei muito...

Então, numa das idas ao day club, resolvi sentar e tomar café com os meus novos amigos pra tentar entender esse mundo desconhecido. Percebi o quanto são carentes de conversa e atenção - querem contar sobre os filhos, netos e bisnetos. Respirei fundo, engoli o choro, o momento de egoísmo passou, abri um sorriso acolhedor e resolvi continuar.

A escola do meu filho vai fazer uma visita de Natal a um
asilo do bairro. Vão cantar musicas natalinas e presentear cada morador.
Sabe o que me deixa feliz? O texto com mais acessos no meu blog é dos "idosos na Inglaterra - um novo olhar", deve ser por alguma razão, não é?! Tenho certeza que por uma boa razão.

beijoooooutro.

11 de outubro de 2017

Bilinguismo dos filhos - Inglaterra

As pessoas tem muita curiosidade em saber como é ter filhos bilíngues e como é o processo de aprendizagem em casa e na escola. Primeiro vou começar com o meu aprendizado e depois com o das crianças.

Cheguei aqui pensando que meu inglês era bom, e logo  descobri que dava pro gasto. Assistir ao noticiário era uma tortura psicológica - no final dava dor de cabeça. Quando entendia 10%, era com ajuda do dicionário. Meu marido e eu comentamos que o dia que entendêssemos 90% do noticiario estaríamos falando fluente o Inglês - demorou uns 9 anos - sem exagero. Como melhorei? Estudando, fui pra escola fazer um curso e tirar um certificado Cambridge. 





Com as crianças é diferente, vão pra escola e aprendem tão rápido que quando menos esperamos já estão nos corrigindo. Hoje em dia, meu filho faz piada com os meus erros e pronuncia - perdeu total o respeito.

O correspondente do governo local da BBC, Mike Sergeant, visitou uma escola no noroeste de Londres, onde há 42 línguas faladas no playground. Byron Court em Brent é uma das escolas com maior diversidade do Reino Unido. "O playground na hora do almoço é uma extraordinária mistura. Crianças do Iraque, Filipinas, Somália, Índia, Nepal, Chipre, Romênia e Eslováquia, para citar apenas algumas, misturam-se felizes e brincam juntas".
Martine Clark -  Head Teacher diz que "É vital não haver diferenciação entre qualquer idioma ou qualquer cultura. Fazemos isso comemorando a diversidade da cultura na escola".
Algumas crianças disseram que sofreram no início, muitas vezes não entendendo instruções simples na sala de aula, mas a maioria disse que estavam adaptadas ​​depois de alguns meses.
Martyn Pendergast, um oficial de educação de Brent, fala que inevitavelmente há um impacto, particularmente no final da escola primária. Que quando eles completam 11 anos já alcançaram os padrões nacionais e aos 16 anos já estão dominando o idioma. Crianças aprendem rapidamente.
Muitos pais acham lindo o filho falar Inglês na frente dos amigos e família quando vão ao Brasil - viram uma foca adestrada. Eu já penso diferente, fico tão orgulhosa dos meus filhos irem ao Brasil e falarem fluente o Português! Primeiro porque são filhos de brasileiros. Segundo: para poderem se comunicar com a família toda. Terceiro: é um diferencial serem bilíngues.
Meu filho maior adora falar português e fala muitíssimo bem por sinal. As suas palavras prediletas são: basicamente e tecnicamente. Ele tem uma dificuldade tremenda com os dias da semana - não consegue memorizar.
A minha menor começou a ser alfabetizada agora, aos 5 anos. Percebo que ela pegou mais rápido o Inglês mas tem misturado muito as palavras - normalíssimo.

Usei algumas técnicas e hábitos que funcionaram e continuam funcionando muito bem: 

- nunca falamos Inglês em casa, nenhum diálogo, NADA.
- quando estamos com amigos ingleses falamos entre nós em Inglês. Sobretudo para não sermos rudes e também para não se sentirem excluídos de alguma maneira.
- mesmo achando engraçadinho os erros que cometem, corrijo e faço repetirem. Ex: BARBARA é barba - corrijo e faço repetir. MANQUEDA é Manteiga- corrijo e faço repetir.
- na fase de misturar as palavras pergunto: você quer falar a frase em Inglês ou português?! Precisa escolher uma das línguas.
- não assistimos televisão em Português, estamos na Inglaterra portanto os programas são Ingleses.
- sempre cantei muita música infantil pra eles. No Brasil comprei um livro/CD "quem canta seus males espanta" - recomendo. 



Somos uma família brasileira e tentamos manter nossas tradições por isso ficou menos confuso pras crianças da porta de casa pra dentro.
Só tomem cuidado com o português que ensinam, o vocabulário deles é de sua responsabilidade. Depois não reclamem se eles forem ao Brasil e falarem: que porra é essa?! 



Beijoooooootro.